Maduro fecha fronteira da Venezuela com Brasil

Mourão diz que "ação militar dos EUA é fora de propósito"

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Em programa de TV, Maduro (esq.) visita centro de distribuição de alimentos do governo, enquanto Guaidó (acima) participa de ato

CARACAS - Após o anúncio feito pelo governo de Jair Bolsonaro de ação coordenada com os Estados Unidos para levar ajuda humanitária à Venezuela, o governo de Nicolás Maduro anunciou o fechamento total da fronteira do país com o Brasil. O vice-presidente general Hamilton Mourão se posicionou contrário a uma intervenção militar dos EUA no país vizinho.

"Decidi fechar totalmente a fronteira terrestre com o Brasil até novo aviso. É melhor prevenir do que lamentar. Comandantes, tomem todas as medidas para resguardar nosso território de qualquer agressão", disse Maduro a autoridades militares. Maduro ainda anunciou que avalia fechar totalmente a fronteira com a Colômbia. Em duro pronunciamento contra o mandatário do país vizinho, Iván Duque, Maduro disse Duque é "responsável por qualquer violência na fronteira". O principal centro de estocagem de ajuda humanitária enviada pelos EUA está localizado em Cúcuta.

O governo Bolsonaro disse que essa medida não altera o planejamento brasileiro, que seguirá acumulando suprimentos em Pacaraima à espera de "caminhões venezuelanos, comandados por venezuelanos". O vice-presidente Mourão afirmou à AFP que não há planos concretos de intervenção e seria "fora de propósito": "Seria muito prematuro e muito fora de proposito os Estados Unidos realizarem uma intervenção militar dentro da Venezuela. A questão tem que ser resolvida pelos venezuelanos". O general estará junto com o chanceler Ernesto Araújo na reunião do Grupo de Lima na próxima segunda, na Colômbia.

O autoproclamado presidente Juan Guaidó afirmou que os suprimentos estocados na fronteira "vão entrar", apesar do bloqueio de Maduro. O líder opositor organizou caravanas de voluntários para buscar os mantimentos em Cúcuta e no Brasil. Maduro visitou ontem um centro de distribuição de alimentos do governo e anunciou que vai enviar sua própria ajuda humanitária a Cúcuta, com 11 caminhões.

Show de retórica

Hoje a Venezuela vai assistir a uma batalha curiosa: governo e oposição estão organizando shows nos dois lados da fronteira do país com a Colômbia. Na cidade colombiana de Cúcuta, o bilionário Richard Branson, fundador do grupo Virgin, promove um concerto com estrelas para arrecadar fundos para ajuda humanitária. Já na venezuelana Ulreña, o governo Maduro organiza um festival de três dias com foco na música tradicional e com o anti-intervencionismo como lema.

O confronto vai acontecer nos dois extremos da ponte de Tienditas, que tem apenas 300m de extensão e passou a ganhar os holofotes internacionais desde que as forças armadas da Venezuela bloquearam a passagem com caminhões e contêiners. Segundo Branson, seu show foi um pedido dos opositores Juan Guaidó e Leopoldo López. Entre as mais de 30 atrações estão o cantor britânico Peter Gabriel (ex-Genesis), o espanhol Alejandro Sanz, o colombiano Maluma, o porto-riquenho Luis Fonsi (do hit "Despacito") e o grupo mexicano Maná. O cantor britânico Roger Waters, ex-Pink Floyd, criticou a iniciativa e a participação de Gabriel.

O nome da cantora Anitta chegou a ser especulado, mas, sem detalhar se chegou a negar um convite, a brasileira afirmou que não participará do show. O franco-espanhol Manu Chao, que tem músicas com um tom político, foi cogitado tanto no show de Branson quanto no festival de Maduro, mas usou o Twitter para desmentir que estará na fronteira.

O evento organizado pelo governo deve contar com artistas locais e ainda promete realizar consultas médicas gratuitas e distribuição de alimentos.

Ontem, o presidente Nicolás Maduro também anunciou a extensão do Carnaval na Venezuela. O presidente decretou que o feriado vai começar na quinta-feira dessa vez, dando mais dois dias de festejos. O mandatário também afirmou que vai distribuir um "bônus" para que aproveitem a festa.