Venezuelanos usam 'rotas alternativas' na fronteira para chegar ao Live Aid

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Concerto "Venezuela Aid Live"

Partindo do povoado de San Antonio, na fronteira com a Colômbia, grupos de amigos caminham por trilhas portando bandeiras da Venezuela em direção a Cúcuta, do outro lado da divisa, para assistir ao evento a favor da ajuda internacional para seu país.

"É emocionante. Temos a atenção do mundo", disse à AFP Aura Vargas, uma advogada de 40 anos que agradeceu ao apoio de artistas internacionais à iniciativa de Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino do país.

Durante a caminhada de 10 km, Aura e seus companheiros de viagem passaram em frente ao bloqueio feito por militares fortemente armados na ponte de Tienditas, que liga os dois países e que será palco de um evento musical organizado pelo governo de Nicolás Maduro contra o que "intervencionismo" externo.

Já do lado colombiano acontece o show organizado pelo magnata britânico Richard Branson, com o grupo argentino Maná e o espanhol Alejandro Sanz, entre outros artistas.

 

 

"Tem muita gente que está morrendo. Pessoas com câncer, com doenças graves, estão praticamente condenadas", lamentou Magdalena Valero, de 64 anos, ao citar à escassez de remédios, um dos sintomas mais graves da crise econômica da Venezuela.

"A ajuda humanitária é urgente", acrescentou Magdalena antes de seguir por uma das trilhas que cortam a fronteira, perto de Tienditas.

Maduro recusa a assistência internacional por considerá-la como o começo de uma invasão militar liderada pelos Estados Unidos para derrubá-lo. Já Guaidó desafia o governo chavista ao defender a entrada da ajuda no país, custe o que custar.

Antonio Mendoza, de 35 anos, que caminhava com a esposa e filhos, acredita que o show no lado colombiano da fronteira servirá de instrumento de pressão para liberar o ingresso no país da ajuda humanitária. "Sería um éxito para todos", destacou.

"Sim, é possível!", gritavam cerca de vinte pessoas enquanto cruzavam o rio Táchira, uma das barreiras naturais entre os dois países.

Apesar das passagens de pedestres oficiais que ligam as cidades venezuelanas de San Antonio e Ureña com Cúcuta estarem funcionando normalmente, muitas pessoas optaram pelas rotas alternativas para evitar aglomerações e os postos de controle.

Cerca de 40 mil venezuelanos atravessam diariamente os postos oficiais na fronteira com a Colômbia e Brasil para comprar remédios e outros produtos escassos na Venezuela. Para deixar o país por esses locais, é necessário ter passaporte ou uma permissão especial emitida pelo.

Segundo a ONU, desde 2015, cerca de 2,7 milhões de venezuelanos abandonaram o país por conta da crise econômica

 

 

Do lado venezuelano, várias pessoas chegaram no início da tarde ao local do evento do governo portando cartazes e gritando palavras de ordem contra a oposição e de apoio a Maduro. Apesar da movimentação, ninguém sabia quem iria se apresentar no show.

"É uma surpresa", disse o dirigente chavista Darío Vivas, ao garantir que o evento contará com muitos artistas. Apesar do otimismo, o político acusou grupos econômicos de fazerem "chantagem" contra os músicos convidados para a apresentação.

No meio dessa disputa política, muitos moradores que ficaram em San Antonio e Ureña acompanham através de aparelhos de televisão que captam emissoras colombianas o evento realizado do outro lado da fronteira.

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