Não queremos um presidente do Paraguai que seja advogado de Bolsonaro, diz opositor

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ASSUNÇÃO, PARAGUAI (FOLHAPRESS) - Líder do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) e segundo colocado nas eleições de 2018, Efraín Alegre, 56, minimizou o fracasso da tentativa de iniciar nesta quinta-feira (1º) o julgamento político do presidente Mario Abdo Benítez, envolvido em uma crise política detonada pela assinatura de um acordo energético com o Brasil.  

"Isso não acabou hoje, está apenas começando. Já estamos redigindo a nova proposta de impeachment que vamos apresentar em breve contra ele e seu vice, Hugo Velázquez", disse, em entrevista à Folha de S.Paulo.

Para Alegre, o atual mandatário cometeu "estelionato eleitoral ao prometer, na campanha, que o Paraguai deixaria de ganhar menos com Itaipu do que o Brasil, como sempre ocorreu", afirmou. "E, de repente, ele faz justamente o contrário. Não queremos um presidente que atue como advogado do presidente do Brasil."

O opositor avalia que o saldo de hoje não é negativo. "Serviu para mostrar a Jair Bolsonaro que ele pode achar que compra um presidente, um técnico, mas não pode comprar um Congresso, uma cidadania, que está comprometida a proteger o que é nosso."

As críticas ao presidente brasileiro se estenderam ao paraguaio. "E se Abdo Benítez pensa que Itaipu não importa aos paraguaios e que pode trocar isso para proteger outras questões ou negócios particulares ou familiares com Bolsonaro, então não está apto para ser presidente dos paraguaios. Porque a questão da nossa energia é uma questão de orgulho nacional."

Alegre disse que as últimas 24 horas saíram um pouco do controle porque seu partido e seus aliados vinham preparando o pedido de impeachment "com calma, até que chegaram os cartistas e o apressaram". "E, tão rápido como entraram na ideia, a abandonaram." 

Ele se refere ao fato de que o ex-mandatário Horacio Cartes, do Partido Colorado, mesmo do presidente mas contrário a Abdo Benítez, ter decidido apoiar o impeachment na noite anterior e desistido na manhã de quinta-feira tão logo o contrato com o Brasil foi cancelado.

"Não posso deixar de considerar que foi uma ação organizada, mas não tenho provas, apenas me parece estranho. Não tem problema, nós vamos iniciar outro trabalho, de conscientização da cidadania, de motivar marchas, de convocar os deputados a votar sem a necessidade de que seja um favor de Cartes", afirmou.

Questionado se o impeachment de Abdo Benítez e de Velázquez teria outros motivos além de Itaipu, como suspeitas de atos ilícitos dos quais o vice-presidente é acusado, Alegre disse que "por ora não".

"Por ora trata-se de proteger nosso interesse energético nacional. Porém, não perdemos de vista que também existem mais coisas a serem investigadas."