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Lula ou Bolsonaro? Imprensa chinesa analisa futuro das relações entre China e Brasil após 2º turno

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Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 10/10/2022 às 07:48

Alterado em 10/10/2022 às 07:48

'China e Brasil compartilham uma parceria comercial complementar', diz analista Foto: AFP/Yasuyoshi Chiba

O "South China Morning Post", jornal de língua inglesa que circula em Hong Kong, ouviu analistas políticos de diversas universidades no mundo para compreender o futuro das relações entre Brasília e Pequim após o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil.

Os especialistas concordaram que Bolsonaro, descrito pela publicação como o "Trump dos trópicos", se distanciaria da China, pelo menos retoricamente. Eles relembram as declarações do presidente brasileiro e dos seus filhos contra a China ao longo dos últimos quatro anos.

A publicação enfatiza, por outro lado, que o comércio bilateral entre os países atingiu um recorde de US$ 135 bilhões (R$ 702 bilhões) no ano passado, aumentando pelo quarto ano consecutivo, apesar do impacto da pandemia de covid-19.

Além disso, a visita do presidente brasileiro à China, em outubro de 2019, segundo os especialistas ouvidos, é uma evidência de que Bolsonaro soube ouvir as críticas e os conselhos de seus ministros sobre a importância de Pequim.

Jeff Garmany, professor associado de estudos latino-americanos da Universidade de Melbourne, disse que muitos dos apoiadores de Bolsonaro eram céticos em relação à China e que Bolsonaro jogou com isso politicamente.

"O Brasil é extremamente dependente da China para a exportação de commodities e um grande pilar do apoio de Bolsonaro também vem do lobby do agronegócio, que se beneficia das exportações de commodities para a China", disse Garmany.

Para Jorge Heine, professor de pesquisa da Pardee School of Global Studies da Universidade de Boston e ex-embaixador chileno na China, "o tom contra a China de Bolsonaro tem sido constantemente desafiado por grupos de comércio e investimento que dependiam fortemente da China como mercado para commodities exportadas, como soja e carne bovina".

Lula, por sua vez, é apresentado como um líder que sempre esteve aberto ao diálogo com Pequim, e favorece uma relação bilateral mais estreita. A reportagem relembra sua visita à China em 2004, com mais de 450 empresários, "lançando as bases para uma próspera parceria econômica".

Especialistas dizem que, se Lula vencer o segundo turno, ele ajudará a fortalecer os laços entre Brasil e China e as parcerias nos Brics, agrupamento formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Margaret Myers, diretora do programa Ásia e América Latina do Inter-American Dialogue, think tank sediado em Washington, disse que uma vitória de Lula seria um benefício significativo para o Brics.

"Lula originalmente imaginou o Brics como um esforço para afirmar a independência das nações em desenvolvimento sobre o dólar americano nas relações comerciais", disse ela.

Dong Jingsheng, vice-diretor do Centro de Estudos da América Latina da Universidade de Pequim, apontou que a China priorizou a parceria econômica e comercial em relação à eleição presidencial.

"China e Brasil compartilham uma parceria comercial complementar, especialmente em agronegócios e investimentos, e a parceria permanecerá sólida apesar das flutuações na orientação política do Brasil", disse Dong. (com agência Sputnik Brasil)