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Há 78 anos, líder fascista Benito Mussolini era executado e exposto em praça pública

Diante da derrota na 2ª Guerra e recessão econômica, ditador foi linchado pelo povo italiano teve seu cadáver pendurado em um posto de gasolina

Por GABRIEL MANSUR*

Publicado em 28/04/2023 às 19:53

Alterado em 28/04/2023 às 20:36

Corpos de Benito Mussolini e Clara Petacci, sua amante, foram pendurados no teto de um posto de gasolina Getty Imagens

O ditador fascista italiano Benito Mussolini, um dos principais aliados de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, teve um fim infame que pode não ter chegado nem perto do terror de suas ações ao longo de sua trajetória no governo de 21 anos na Itália. Em 28 de abril de 1945, há exatos 78 anos, Mussolini era fuzilado ao lado de sua amante, Claretta Petacci, por membros da Resistência Antifascista italiana no vilarejo de Giulino di Mezzegra, no Norte do país. Ele tinha 61 anos.

Il Duce, como era conhecido o então primeiro-ministro da Itália, havia sido capturado um dia antes. Àquela altura, o Eixo sucumbia perante ao avanço dos Aliados. O fim da Guerra estava cada vez mais próximo.

Os corpos de Mussolini e Claretta foram levados até Milão, onde foram expostos e pendurados de cabeça para baixo em praça pública. Durante horas, o povo italiano mostrou toda sua revolta contra o líder fascista, chutando, cuspindo e até mesmo urinando sobre o que foi um dos homens mais desprezíveis do século passado.

As circunstâncias da morte de Mussolini foram investigadas por um tribunal do júri de Pádua, em maio de 1957, mas o processo não chegou a uma conclusão. Até hoje, não se sabe quem de fato disparou os tiros. Entre os italianos, a versão "oficial" é de que Walter Audisio executou Mussolini, obedecendo uma ordem do Comando Geral da resistência. Alguns historiadores italianos acreditam que Michele Moretti, outro membro, teria dado os tiros.

 

Uma trajetória de repulsa

Fundador e líder do Partido Fascista italiano, Mussolini projetou-se nacionalmente graças à sua habilidade retórica e ao discurso demagógico, que buscava cooptar a insatisfação popular com a instabilidade política e com a crise econômica. Buscando responder à frustração dos trabalhadores pauperizados, Mussolini conseguiu uma legião de seguidores, convertendo o Partido Fascista em uma organização de massas.

O Partido Fascista atraiu o apoio expressivo da burguesia italiana; como o nazismo, na Alemanha, era visto como um instrumento eficaz para frear o avanço da esquerda radical e desarticular os movimentos operários e fortalecer o domínio político das elites - sendo por isso reivindicado como um modelo político ideal pela burguesia internacional.

Em 1922, após organizar a marcha simbólica dos Camisas Negras sobre Roma, Mussolini conquistou o apoio do rei Vítor Emanuel III, que o nomeou como primeiro-ministro. Dois anos depois, o partido já contava com 720 mil filiados e milhões de simpatizantes, tornando-se a força política preponderante da Itália.

 

Macaque in the trees
Soldados saudando Benito Mussolini (Foto: Domínio Público via Wikimedia Common)

 

A partir de 1923, Mussolini eliminou energicamente seus oponentes. Para além da repressão brutal aos opositores, ele expandiu os domínios coloniais italianos na África, cometendo uma série de crimes de guerra, incluindo o uso de armas químicas na Líbia e o massacre de civis na Etiópia.

Visando forjar novas alianças, Mussolini se aproximou da Alemanha nazista, estabelecendo o Eixo Roma-Berlim em 1936. Buscou a partir de então emular as ações de Adolf Hitler, que se tornaria seu mentor e modelo. A aliança com a Alemanha resultou na subordinação da política externa italiana aos ditames do regime nazista.

Mussolini apoiou incondicionalmente todas as ações encampadas por Hitler: em 1939, os países firmaram o "Pacto de Aço", tornando o ingresso da Itália na Segunda Guerra Mundial uma decorrência obrigatória.

 

O início da queda

A aliança militar com a Alemanha foi desastrosa para a Itália, que amargou sucessivas derrotas durante a Segunda Guerra. O desempenho medíocre no conflito gerou divisões na cúpula do regime fascista. A insistência de Mussolini em manter o apoio militar à Alemanha nazista, somado à deterioração das condições de vida, levou à rápida perda de apoio popular. Junto a isso, a miséria crescia exponencialmente.

Submetidos ao racionamento de ítens básicos e à inflação de guerra, os trabalhadores perderam o poder de compra, enquanto o governo esbanjava gastos militares. Ao mesmo tempo, os bombardeios dos Aliados tornavam-se cada vez mais frequentes. O desembarque das tropas aliadas na Sicília em maio de 1943 foi o fator decisivo para que o rei Vítor Emanuel retirasse seu apoio ao "Duce".

Mussolini foi destituído do cargo de primeiro-ministro e teve sua prisão decretada em 25 de julho de 1943. O regime fascista entrou em colapso. Nas ruas, a população destruía os símbolos fascistas e exigia a libertação dos presos políticos. Vítor Emanuel logo assinou um armistício - acordo formam para cessar a guerra - e abandonou Roma, que foi ocupada pelos partisans - grupos armados de civis que compunham a Resistência Italiana ao nazifascismo.

 

Da fuga à execução

Antes que pudesse ser entregue de bandeja aos aliados como um dos termos do armistício, entretanto, Mussolini foi libertado por paraquedistas alemães da SS - organização paramilitar ligada ao Partido Nazista - no dia 12 de setembro, dois meses após a prisão. 

Três dias após seu resgate, ele foi levado à Alemanha para um encontro com Hitler em Rastenburg, em seu quartel-general na Prússia Oriental. Apesar das declarações públicas de apoio, Hitler estava claramente chocado com a aparência desleixada e abatida de Mussolini, bem como sua relutância em ir atrás dos homens em Roma que o derrubaram.

Ainda assim, com apoio dos militares nazistas, Mussolini fugiu Gargnano, no Lago Garda, na Lombardia, norte da Itália, onde proclamou a "República de Salò" - Estado fantoche controlado pela Alemanha. Embora ele insistisse publicamente que estava no controle total, ele sabia que não passava de um governante fantoche sob a proteção dos alemães. Na verdade, ele vivia sob o que equivalia a uma prisão domiciliar pela SS, que restringia suas comunicações e viagens.

A República de Salò tentou rearticular suas defesas, mas foi continuamente enfraquecida pelo avanço dos Aliados e pelas ações da Resistência Italiana.

Quando os alemães iniciaram sua retirada da Itália, em 1945, Mussolini tentou segui-los. Para deixar o país, o ditador se disfarçou para sair de Milão, partindo em um comboio de soldados alemães, ao lado da companheira Clara Petacci, em direção à fronteira com a Suíça, mas a trama foi descoberta pelos partisans, que o capturaram em 27 de abril.

 

Macaque in the trees
Mussolini (no centro, de casaco e chapéu preto) resgatado por tropas alemãs de sua prisão) (Foto: Reprodução)

 

"A 52ª Brigada Garibaldina me capturou hoje, sexta-feira, 27 de abril, na praça de Dongo. O tratamento durante e depois da captura foi correto", Mussolini escreveu em seu último documento, um bilhete encontrado em maio de 2003. No dia seguinte, o líder fascista foi fuzilado ao lado da amante.

Em Milão, uma multidão se reuniu a fim de execrar os cadáveres do casal e de outros três líderes do Partido Fascista, igualmente executados pelos partisans - Nicola Bombacci, Alessandro Pavolini e Achille Starace.

Depois, os cadáveres foram pendurados de cabeça pra baixo em um posto de gasolina na Piazzale Loreto — exatamente no mesmo local onde, um ano antes, os fascistas haviam pendurado os corpos de quinze opositores do regime de Mussolini, a fim de amedrontar a população.

* Com Pensar a História