Alberto Fernández desiste da reeleição, e peronistas apoiam Cristina à Presidência da Argentina

Com 17% de aprovação, reeleição era improvável; Coalizão governista ainda não lançou candidato e espera decisão da vice para avançar

Por GABRIEL MANSUR

O presidente Alberto Fernandez pediu que todos fossem votar

Em meio à grave recessão da economia, o presidente Alberto Fernández anunciou, nesta sexta-feira (21), que não vai se candidatar à reeleição à Presidência da Argentina no pleito marcado para outubro deste ano. A decisão foi comunicada quase um mês após o ex-presidente Maurício Macri, da oposição, afirmar que também não seria candidato.

A declaração acontece ao final de uma semana intensa no país, na qual a tensão política dentro do governo provocou uma nova corrida para comprar dólares, levando a moeda americana a superar a barreira dos 400 pesos no mercado paralelo. A última pesquisa realizada pela Universidade de San Andrés, em março, indicou que o governo de Fernández e Cristina tem 81% de desaprovação e apenas 17% de aprovação.

"O contexto me obriga a dedicar todos os meus esforços aos difíceis momentos que a Argentina atravessa. No próximo 10 de dezembro (data da posse), é o dia exato em que cumprimos 40 anos de democracia. Nesse dia, passarei a faixa presidencial a quem tenha sido eleito legitimamente nas urnas pelo voto popular", disse o mandatário por meio de um vídeo em suas redes sociais intitulado "Minha decisão".

O presidente ressaltou as crises que atravessaram a sua gestão: a herança do governo neoliberal de Mauricio Macri e a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a pandemia, os impactos da guerra na Ucrânia e, agora, a seca que afeta os cultivos do país. "Está claro que não alcançamos tudo o que propusemos", disse.

Essa foi a primeira definição no âmbito peronista que marca um rumo para 13 de agosto, quando as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) determinarão quem disputará a eleição presidencial. O candidato à Presidência pela coalizão governista "Frente de Todos (FdT)" ainda é incerto, com diferenças internas na coalizão entre as correntes ligadas a Fernández e segmentos mais alinhados com Cristina Kirchner.

 

Peronistas apoiam Cristina Kirchner

Desde março, organizações peronistas realizam uma série de atos chamados pela mídia argentina de "Operação Clamor". Com o lema "Democracia ou máfia judiciária", as manifestações defendem a candidatura da vice-presidenta Cristina Kirchner e denunciam a politização do Poder Judiciário no país.

A líder peronista, nome de maior peso político e eleitoral dentro do movimento, foi condenada em dezembro a seis anos de prisão e à inabilitação política, em um processo judicial que investigou supostos desvios de verbas em obras públicas na província de Santa Cruz. Após a sentença, Kirchner anunciou que não se candidataria na eleição de 2023.

Caso não seja a candidata, as organizações defendem que seja ela quem defina o nome do campo. As mobilizações buscam criar o clima para que ela o faça. O grande problema é que, atualmente, a "Frente de Todos" não tem um candidato competitivo e as chances de sequer passar para o segundo turno, em 19 de novembro, são grandes.

A crise econômica na Argentina, que convive com alto índice inflacionário, não favorece em nada a coalizão Frente de Todos. Dados recentemente divulgados mostram que março registrou um aumento de preços de 7,7% em relação ao mês anterior, com um acúmulo de 21,7% de inflação no primeiro trimestre de 2023.

 

Crise econômica

Nesta semana, o país atravessou uma nova corrida cambial, com o aumento rápido do valor do dólar paralelo que, apesar de não estar ligado às transações oficiais dolarizadas, leva à especulação e impulsiona o aumento de preços.

O fenômeno teve impulso com a saída de Antonio Aracre, então chefe de assessores de Fernández, que decidiu renunciar após rumores de que ele substituiria o Ministro da Economia, Sergio Massa, para que este se lançasse como pré-candidato. O agora ex-assessor presidencial divulgou entre membros do governo e do setor privado um plano que defendia uma forte desvalorização do peso.

O documento irritou profundamente Massa, culminando finalmente no afastamento de Arcre. Fernández cedeu às pressões do ministro e, poucos dias depois, confirmou que não disputará a reeleição. Já Massa, que sempre foi considerado um dos possíveis candidatos, perdeu fôlego com a crise econômica. Hoje, ele já afirma que não deverá lançar candidatura.