Ministro equatoriano exibe vídeo comprometendo políticos e bancos

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Agência EFE

EQUADOR - O ministro da Economia do Equador, Ricardo Patiño, apresentou na última quinta-feira trechos de um vídeo mostrando que três ex-ministros e pelo menos dois bancos equatorianos podem estar comprometidos com supostas operações para enriquecer com bônus da dívida pública.

Num ato público de apoio ao ministro, que durou cerca de três horas, Patiño mostrou seis breves fragmentos de um vídeo, com uma duração total de 1h40m. Também foi gravada uma reunião sobre uma eventual manipulação do mercado de bônus Global 2030.

Além de Patiño e seu assessor Héctor Egües, estavam na reunião, no dia 12 de fevereiro, o ex-ministro da Economia Armando Rodas, o empresário argentino Carlos Abadi e o seu assessor, Alain Bayer.

Num fragmento do vídeo, Rodas, respondendo a Patiño, cita os ex-ministros de economia Guillermo Lasso e Ivan Andrade, além do negociador da dívida Ivan Nieto. Os três supostamente estariam envolvidos em negócios obscuros para obter lucro com bônus da dívida do país.

Abelardo Pachano, ex-presidente do Banco Central, da Junta Monetária e do banco Produbanco, também estaria ligado ao suposto esquema.

Patiño disse que os ex-ministros teriam tido um conflito de interesses, se foram detentores de bônus, como dá a entender Rodas, já que, ao mesmo tempo, eram responsáveis pela sua negociação, como representantes do Governo.

O som da gravação é de difícil compreensão. Por isso, foi acrescentada uma transcrição da conversa.

Também são citados o Banco de Guayaquil e o Aserval, que desapareceu por causa da crise bancária de oito anos atrás.

Na reunião, Carlos Abadi, da empresa Abadi, que negocia bônus de dívida, fala a Patiño sobre uma possível operação na qual o ministro deveria assustar o mercado, com indícios de que não pagaria os juros.

A medida elevaria o seguro cobrado pela Abadi aos credores. O ganho chegaria a cerca de US$ 250 milhões, dos quais US$ 150 milhões seriam para o Estado.

Outra possibilidade sugerida por Abadi, segundo o texto transcrito, é atuar como agente do Estado equatoriano e pagar ao Governo 90% das gratificações obtidas de credores preocupados com uma eventual moratória do pagamento, que porém não aconteceria.

Para a operação, segundo palavras de Abadi, seria necessário um alto grau de incerteza no mercado, criado por indícios falsos de uma moratória. O mercado contrataria mais seguros, que não seria preciso cobrir.

- Os credores vão se irritar conosco se nós os assustarmos e fizermos que percam uma grande soma - diz Patiño na conversa. Abadi responde que: - É gente que aposta contra o Equador. Rodas, de acordo com o empresário argentino, acrescenta são especuladores.

Patiño afirmou que, no fim da reunião, não foi acertada nenhuma operação. A sua intenção, explicou, era receber a informação para conhecer os mecanismos perversos e corruptos utilizados para manipular os mercados de dívida e obter grandes lucros.

O ministro garantiu que o vídeo foi o único que ele mandou seu ex-colaborador Quinto Pazmiño gravar, com autorização do presidente Rafael Correa.

Pazmiño, depois de ser despedido do Ministério da Economia, enviou à emissora de televisão Teleamazonas uma parte do vídeo. A imagem provocou um escândalo. Patiño foi convocado a depor no Congresso, enquanto a Procuradoria Geral e a Controladoria do Estado abriam investigações.

Em 14 de fevereiro, o Equador pagou US$ 135 milhões de juros dos bônus Global 2030, apesar de ter anunciado dois dias antes que haveria um atraso por razões técnicas. O anúncio causou preocupação nos mercados, mas não baixou o preço dos papéis. A sua cotação, pelo contrário, subiu, segundo Patiño.