Afeganistão: ONGs acusam tropas aliadas pela morte de 230 civis

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Agência EFE

CABUL - Diversas ONGs presentes no Afeganistão, entre elas a Oxfam International, denunciaram nesta quarta-feira que o uso "desproporcional ou indiscriminado' da força pelas tropas internacionais e afegãs causou a morte de 230 civis este ano.

Segundo a Agência do Corpo Coordenador de Ajuda ao Afeganistão (ACBAR, na sigla em inglês), uma rede formada por 97 ONGs para coordenar a assistência humanitária no país, este ano 'as forças internacionais e do Governo afegão foram responsáveis pela morte de pelo menos 230 civis, entre eles 60 mulheres e crianças'.

A rede assegurou em comunicado que estas ações foram realizadas com freqüência 'por forças e agências fora do comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); a maioria por tropas americanas em sua operação Liberdade Duradoura, e às vezes em colaboração com as forças afegãs'.

A Otan mantém 35 mil soldados no território afegão, enquanto os americanos possuem 27 mil militares, cerca de 15 mil sob o mandato da aliança atlântica e 12 mil sob comando direto de Washington.

No domingo, um bombardeio aéreo dos Estados Unidos matou sete crianças na província de Paktika, o que, unido ao 'significativo'

número de vítimas civis nos atuais combates em Uruzgan (centro), "ressaltam a urgência da questão', afirmou a ACBAR.

Para o organismo humanitário, estes fatos evidenciam que as tropas internacionais recebem freqüentemente 'informações falsas ou inadequadas' sobre os insurgentes, que resulta em 'uma ação militar precipitada com conseqüências fatais para os civis afegãos'.

Desde janeiro, 'quatorze civis morreram simplesmente por dirigir ou caminhar muito perto dos militares estrangeiros ou de seus veículos', denuncia a rede.

O grupo reconheceu que os soldados enfrentam a tensão própria de uma situação de guerra, mas isso não deve impedir que os efetivos militares 'respeitem, em todos os momentos, as leis internacionais sobre direitos humanos'.

Além de criticar grandes ataques aéreos sobre áreas povoadas, a ACBAR destacou as denúncias de cidadãos sobre 'invasões e buscas em lares afegãos praticados de forma abusiva' e sem nenhum tipo de "sensibilidade cultural', o que provoca 'hostilidade com relação às forças internacionais'.

Isto também influi na segurança das operações das ONGs, lamentou o organismo.

A ACBAR reivindicou 'todas as medidas possíveis para controlar o uso da força' a fim de evitar vítimas civis, além de lançar operações só em função de informação 'precisa e confiável' e suspender as invasões e buscas 'abusivas'.

A agência também pediu à Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (Unama) e à Comissão Afegã Independente dos Direitos Humanos que investiguem 'exaustivamente' todos os casos com vítimas civis.

Mais de 2 mil pessoas morreram este ano nos constantes combates, bombardeios e atentados no Afeganistão, onde a situação se deteriorou ainda mais desde o início do ano.

Nos últimos dias, os choques se concentraram na província de Uruzgan (centro), onde desde o domingo pelo menos 150 pessoas morreram, entre elas dezenas de civis, segundo oficiais afegãos.

O comunicado da ACBAR coincidiu com a advertência da ONU sobre o número 'cada vez maior' de crianças que morrem no Afeganistão ao ficarem 'em meio ao fogo cruzado'.

A representante especial das Nações Unidas para proteção de crianças em conflitos armados, Radhika Coomaraswamy, denunciou em comunicado o elevado número de menores vítimas dos combates entre talibãs e forças afegãs e estrangeiras.

Coomaraswamy também pediu que ambas as partes dêem 'todos os passos necessários para proteger as crianças'.