História de sobrevivente do 11/9 pode ser falsa
Agência JB
NOVA YORK(EUA) - A história de Tania Head, na forma como foi contada ao longo de anos a jornalistas, alunos, amigos e centenas de visitantes levados ao local do ataque terrorista do 11 de setembro, em Nova York, era um relato notável de vida e morte.
Ela dizia ter sobrevivido ao ataque terrorista ao World Trade Center apesar de ter sofrido sérias queimaduras quando um avião colidiu contra a parte mais alta da torre sul. Mas informações recentes determinam que parte alguma de sua história pode ser confirmada.
Engatinhando em meio aos destroços e à carnificina no 78° andar, naquela manhã, contava Head, ela encontrou um homem moribundo que falou com ela e lhe deu sua aliança de casamento, mais tarde entregue por ela à viúva da vítima.
A vida de Head só foi salva, ela contava, devido aos esforços de um voluntário que se arriscou para apagar o fogo que havia tomado suas roupas, antes que alguém a conduzisse à rua.
Foi um percurso que ela dizia ter tido forças para concluir porque pensava o tempo todo no belo vestido branco que usaria em seu casamento com um homem chamado Dave, cuja data já estava marcada.
Mas ela descobriria mais tarde que Dave, seu noivo (ou, de acordo com algumas versões da história, seu marido) havia morrido no ataque à torre norte.
Em termos históricos, o relato de Head fez dela uma das apenas 19 pessoas que estavam acima do ponto de impacto do avião e ainda assim sobreviveram ao atentado. Em termos emocionais, ela comoveu audiências como grupos universitários e visitantes ao local do memorial provisório que marca o local do ataque.
- O que eu testemunhei lá jamais será esquecido - disse ela a uma platéia no Baruch College, em uma cerimônia em 2006. "Muita morte, muita destruição, mas também vi a esperança".
Boa parte do relato de Head foi postado no site da Rede de Sobreviventes do World Trade Center, uma organização sem fins lucrativos da qual ela foi presidente e a pessoa de contato para doações vindas de empresas.
Alguns fatos não permitem confirmar a veracidade das declarações de Head. A família e amigos do homem de quem ela dizia estar noiva afirmam que nunca ouviram falar de Tania Head, e consideram o relacionamento que ela descreve com ele, que efetivamente morreu na torre norte, como uma impossibilidade.
Um porta-voz do Merrill Lynch, o banco de investimento para o qual ela dizia trabalhar na época da ataque terrorista, afirma que a empresa não tem ninguém com esse nome em seus arquivos de funcionários para o período em questão.
E ao que parece pouca gente, entre as muitas pessoas que se comoveram com a dor e a verossimilhança de seu relato, perguntou o nome do homem cuja aliança de casamento ela teria devolvido, ou o do hospital no qual ela teria sido tratada, ou a identidade das pessoas que ela encontrou na torre sul na manhã do 11 de setembro.
"Ela nunca "disse Alison Crowther, mãe de Welles Remy Crowther, um homem que morreu em 11 de setembro e ao qual é atribuído o salvamento de diversas pessoas na torre sul, entre as quais Head - pelo menos segundo o relato dela.
Nas últimas semanas, o The New York Times tentou entrevistar Head sobre suas experiências no 11 de setembro, porque ela havia apresentado relatos pungentes de sobrevivência e perda, em outros contextos. Mas ela cancelou três horários de entrevista, mencionando que desejava proteger sua privacidade e que sofre de distúrbios emocionais quanto ao ataque, e se recusou a oferecer detalhes que corroborassem sua história.
Em conversa telefônica, na terça-feira, ela não explicou sua reticência, dizendo apenas que não fez nenhum pedido de indenização ao Fundo de Indenização de Vítimas. "Não fiz coisa alguma de ilegal", afirmou Head.
Ninguém sugeriu que Head tenha agido para explorar financeiramente sua posição como dirigente da rede de sobreviventes, a organização sem fins lucrativos para a qual ela ajuda a angariar fundos.
Mas as organizações às quais ela esteve afiliada também questionaram seu relato, depois de serem informadas sobre a investigação do jornal.
Por diversas semanas, colegas que dizem respeitar o bom trabalho que ela realizou como uma das líderes na comunidade de sobreviventes a pressionaram a prestar esclarecimentos.
Mas disseram que não conseguiram convencê-la ou que, em certas ocasiões, ela mencionou fatos que contradiziam suas versões anteriores do acontecido.
O conselho da Rede de Sobreviventes do World Trade Center votou esta semana por removê-la da presidência e de seu posto como conselheira do grupo, cujo objetivo é apoiar as pessoas que escaparam aos horrores daquele dia.
- Tania Head não está mais associada à organização - disse Richard Zimbler, o presidente interino do grupo, na quarta-feira.
Funcionários do memorial às vítimas no local de ataque informaram que Head não trabalharia mais como guia voluntária de grupos de visitantes.
Head contou ter sido resgatada por Crowther, 24 anos, operador de ações e bombeiro voluntário no condado de Rockland, que de fato salvou diversas pessoas na torre sul, conduzindo-as à única escada, nas duas torres, que os aviões não haviam demolido. Mas ele não conseguiu escapar.
Jefferson Crowther, pai de Welles, disse em entrevista que ele e a mulher haviam conhecido Head no começo do ano passado.
- Ela contou que suas roupas estavam em chamas, e que nosso filho as apagou com um paletó. Ela disse ter pedido que ele não a deixasse, e que ele respondeu que a ajudaria a descer. Ela parecia tão comovida e genuína naquilo que dizia - afirma Crowther.
Com informações do The New York Times