Visitas de advogados a clientes presos foram grampeadas no Reino Unido
Agência EFE
LONDRES - Centenas de visitas de advogados às prisões britânicas foram submetidas a escutas ilegais pela Polícia, informou neste sábado o jornal 'The Daily Telegraph'.
A revelação recente de que um parlamentar muçulmano do Partido Trabalhista, Sadiq Khan, foi espionado ao visitar um amigo preso suspeito de terrorismo é apenas um entre muitos casos, afirma o jornal.
Profissionais conhecidos, alguns deles especializados em direitos humanos, como as advogadas Gareth Peirce e Mudassar Arani, eram espionados rotineiramente pela Polícia durante visitas a seus clientes na prisão de Woodhill.
Peirce é talvez a mais famosa advogada de direitos civis do Reino Unido e representou, entre outros, a família do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto a tiros pela Polícia londrina em 2005 após ser confundido com um terrorista.
A advogada Arani é especialista na defesa de suspeitos de terrorismo islâmicos e representa, entre outros, o antigo imame (pregador muçulmano) da mesquita londrina de Finsbury Park, Abu Hamza, cuja extradição para os Estados Unidos foi aprovada esta semana pelo Governo britânico.
Segundo o 'The Daily Telegraph', a Polícia escondeu microfones em algumas mesas da prisão de Woodhill.
Ao tornar-se público o conhecimento do uso desse tipo de prática, considerada ilegal, espera-se que muitos advogados exigirão novos julgamentos, ainda segundo o jornal.
O porta-voz para assuntos internos da oposição conservadora, David Davis, disse ontem à noite que escreveria ao ministro da Justiça, Jack Straw, para exigir uma completa investigação.
- É inconcebível que tudo isto tenha acontecido sem aprovação ministerial - disse Davis.
Já Chris Huhne, porta-voz para assuntos internos do Partido Liberal-Democrata, manifestou seu 'repúdio' às escutas, que põem em xeque 'a confidencialidade entre advogado e cliente, um pilar do sistema legal'.
Andrew Holroyd, presidente da Sociedade Legal do Reino Unido, disse que é 'completamente inaceitável' que os advogados tenham que temer que alguém escute suas conversas.
O escândalo veio à tona quando se descobriu que Khan, advogado de direitos humanos, havia sido espionado durante duas visitas, a um suspeito de terrorismo, e amigo de infãncia, em 2005 e 2006.
O acontecimento causou um escândalo nacional, já que grampear a conversa de um deputado sem seu conhecimento é proibido no Reino Unido, desde os anos 1960.
As revelações acontecem na semana em que a organização britânica Liberty apresentou um relatório denunciando as várias formas como os cidadãos são vigiados pela Polícia desde o início da guerra contra o terrorismo.
Segundo a organização, as autoridades estão vigiando indiscriminadamente as pessoas ao invés de se concentrar unicamente nos suspeitos, trazendo 'conseqüências desastrosas para a privacidade dos britânicos que cumprem a lei'.
Entre junho de 2005 e março de 2006, cerca de 440 mil operações de vigilância de comunicações pessoais foram autorizadas, segundo uma denúncia da Liberty.