África Ocidental sob o risco do tráfico internacional
Marsílea Gombata, Jornal do Brasil
CIDADE DO CABO - Uma nova ameaça paira sobre a África. Parte de uma recente rota de drogas com origem na América Latina e destino em países europeus, países do Oeste da África enfrentam o risco de serem dominados por cartéis do tráfico e sob ataque de traficantes e do crime organizado.
Trata-se de um trajeto de cocaína dirigido à Europa, que sai de países como Colômbia e Brasil, passando pela África para, posteriormente, subir para Espanha, Itália, Portugal, França, Inglaterra e outros destinos da parte Oeste da Europa explica Giovanni Quaglia, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC, na sigla em inglês).
Segundo o especialista, o trajeto foi estabelecido como meio de os traficantes evitarem apreensões da droga pela polícia, já que nos países africanos os controles são menos eficazes do que na Europa.
É uma alternativa a caminhos que vinham sendo feitos antes, com saída direto da Colômbia, por exemplo, via Caribe ou Suriname em direção à Holanda e à França.
Segundo estimativas da ONU, pelo menos 27% (40 toneladas) da cocaína consumida na Europa passa pela rota composta por países como Cabo Verde, Benin, Mauritânia, Senegal, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, Mali e, ainda, Senegal.
A crescente preocupação das autoridades em relação ao que o novo trajeto pode trazer aos países africanos evidencia a necessidade de medidas coordenadas internacionalmente.
Riscos
Com a entrada das drogas na região ocidental da África, o receio se dá em torno do aumento das redes de tráfico, da criminalidade, além de intimidação e extorsão utilizadas para levar adiante atividades criminosas ligadas à comercialização das drogas. Quanto maior o tráfico, maior o consumo, a delinqüência juvenil, a violência urbana e a insegurança. A lavagem de dinheiro em transações ilegais, como a venda de produtos piratas e contrabando, também não está descartada.
O fato de essa rota gerar em torno de US$ 450 milhões por ano aos envolvidos da África é outro fator preocupante alerta Quaglia. Essa quantia é bastante para países pobres do continente e pode ser usado para corromper oficiais do governo, como o Judiciário. São nações muito frágeis e jovens em termos de democracia, o que aumenta o risco que traficantes de armas e drogas podem trazer à segurança.
A questão vem sido discutida desde o início da semana em Cidade da Praia, capital cabo-verdiana, entre especialistas dos 15 países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), que termina nesta quarta-feira com a aprovação de um plano de luta contra o narcotráfico.
Já na sessão de abertura, a ministra da Justiça de Cabo Verde, Marisa Morais, lembrou que o combate ao tráfico é um desafio que só pode ter sucesso com uma ação conjunta .
Neste sentido, vem sendo ensaiado um trabalho conjunto além das fronteiras, com a colaboração de polícias de outros países, como da União Européia e até mesmo dos Estados Unidos e da América Latina.
O combate não pode ser feito isoladamente alerta Bernardo Varela, da Universidade de Cabo Verde. Devemos também pensar em como recuperar jovens e mostrar os riscos da droga, dentro de uma abordagem interdisciplinar. Temos de impulsionar toda a capacidade de nossa estrutura institucional para ajudar as autoridades.