Após vitória histórica, Obama se volta para o futuro
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WASHINGTON - O democrata Barack Obama trocou na quarta-feira o brilho da sua histórica vitória eleitoral da véspera para os desafios que enfrentará como presidente de um país à beira da recessão e envolvido em duas guerras.
Obama, que será o primeiro negro a governar os EUA, disse no discurso de vitória, na noite de terça-feira, diante de 200 mil simpatizantes em Chicago, que - a estrada pela frente será longa, nossa subida será árdua.
- Podemos não chegar lá em um ano ou em um mandato, mas a América nunca estive mais esperançoso do que hoje de que chegaremos lá.
A partir da posse, em 20 de janeiro, o novo presidente contará com uma ampla maioria no Congresso, resultado da rejeição do eleitorado aos oito anos do governo republicano de George W. Bush.
Em todo o país, norte-americanos celebraram o resultado eleitoral, mas o próprio Obama teve pouco tempo para a festa, pois já precisa preparar as prioridades do novo governo.
Ele prometeu retirar as tropas do Iraque nos 16 primeiros meses de mandato, para ampliar o contingente no Afeganistão. Antes disso, porém, provavelmente terá de tratar da crise financeira, a pior no país desde a Grande Depressão, na década de 1930.
Dados divulgados na quarta-feira mostram uma rápida deterioração no nível de emprego do setor privado em outubro, junto com uma contração do setor de serviços.
Em aparição nos jardins da Casa Branca, Bush disse ter telefonado para Obama para lhe cumprimentar pela "impressionante vitória", que representa "um sonho realizado" para o movimento dos direitos civis. Ele prometeu cooperação na transição.
- Durante este período de transição, manterei o presidente-eleito totalmente informado das decisões importantes, disse Bush.
Obama há semanas já preparava a transição, e deve indicar rapidamente os ocupantes de pastas importantes, como Tesouro e Estado. Especula-se que ele teria convocado o deputado Rahm Emanuel, que atuou no governo Clinton, para ser o chefe de gabinete da Casa Branca.
CAFÉ E GINÁSTICA
A primeira manhã de Obama como presidente-eleito foi gasta com tarefas prosaicas. Ele tomou café-da-manhã com as duas filhas em sua casa, em Chicago, e saiu para fazer ginástica. Mais tarde, pretendia passar pelo comitê de campanha para agradecer a equipe.
Filho de um negro do Quênia com uma branca do Kansas, Obama pode ser um marco para os EUA na superação da sua luta contra o racismo.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, refletiu a alegria de muitos negros norte-americanos, dizendo que Obama é uma "fonte de inspiração" e os EUA têm uma infinita capacidade de surpreender.
- Como afro-americana, estou especialmente orgulhosa, porque este é um país que passou por uma longa jornada em termos de superação de feridas e de fazer com que a raça não seja um fator nas nossas vidas, disse a jornalistas.
- Esse trabalho não está concluído, mas ontem foi obviamente um extraordinário passo à frente.
Muitos líderes mundiais manifestaram satisfação com a vitória de Obama. Alguns apontaram uma oportunidade de recuperar a abalada imagem dos EUA; outros lhe pediram ajuda para instaurar uma nova ordem econômica mundial.
- Sua eleição despertou enorme esperança na França, na Europa e além, disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Já o mercado financeiro dos EUA, depois de uma terça-feira otimista, caía 3 por cento no meio do pregão de quarta, por causa dos dados ruins da economia.
A apuração prossegue em dois Estados, e Obama já acumula 349 votos no Colégio Eleitoral (precisava de 270 para se eleger presidente). Com 96 por cento dos votos apurados em todo o país, ele lidera com 52-46 por cento contra John McCain.
Os democratas ampliaram sua bancada em cerca de cinco vagas no Senado e 20 na Câmara, o que certamente dará mais margem de manobra para o presidente. Ainda há quatro vagas indefinidas no Senado.
Houve festa pela vitória de Obama e pelo fim da era Bush em frente à Casa Branca. Washington teve um congestionamento noturno, com carros buzinando e pessoas se colocando para fora das janelas para acenar.
Também houve uma festa com milhares de pessoas na Times Square, em Nova York, e em cidades de todo o país.
- É uma grande noite, uma noite inacreditável - disse em Atlanta o deputado democrata John Lewis, da Geórgia, que foi brutalmente agredido pela polícia do Alabama durante uma passeata pelo direito dos negros ao voto, em 1968.