Nobel da Paz japonês pediu ataque nuclear contra China aos EUA em 1965

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Agência AFP

TÓQUIO - O ex-primeiro-ministro japonês Eisaku Sato, Prêmio Nobel da Paz em 1974 por seu compromisso antinuclear, havia pedido nove anos antes aos Estados Unidos que lançassem uma bomba atômica contra a China no caso de uma guerra entre os dois poíses asiáticos, segundo documentos secretos divulgados nesta segunda-feira.

O Japão, o único país que foi vítima de ataques nucleares, em 1945, defendeu por muito tempo o abandono das armas nucleares, uma posição que valeu o Prêmio Nobel da Paz a Sato, premier de 1964 a 1972.

No entanto, documentos confidenciais do ministério das Relações Exteriores, que tiveram a divulgação autorizada, indicam que Sato pediu em 1965 aos Estados Unidos que estivessem dispostos a lançar um ataque nuclear contra a China no caso de conflito com o Japão.

De acordo com os documentos, Sato declarou ao secretário americano de Defesa, Robert McNamara, durante uma reunião em Washington.

- Nós esperamos que os Estados Unidos respondam imediatamente utilizando armas nucleares no caso guerra com a China - disse.

Na época, nem Japão nem os Estados Unidos tinham relações diplomáticas com a China comunista de Mao Tse-Tung. Sato afirmou que os americanos não poderiam lançar uma bomba atômica a partir do território nipônico, mas que poderiam fazê-lo a partir de águas territoriais japonesas.

Ao ser questionado sobre as revelações, o porta-voz do governo japonês, Takeo Kawamura, destacou que "nenhuma arma atômica foi introduzida no Japão".

O atual governo é dirigido pelo Partido Liberal Democrata, o movimento de direita do qual surgiu Sato. Os três eixos da política antinuclear de Sato - o Japão não produzirá, não possuirá nem autorizará a entrada de armas nucleares em seu território - são "fixas e estáveis", disse Kawamura.

Para explicar a atitude do premier da época, ele lembrou que o mundo ocidental acabara de descobrir com espanto, em 1964, que a China havia entrado para o clube das potências nucleares.

O Japão sofreu ao fim da Segunda Guerra Mundial os únicos bombardeios nucleares da história, executados pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki, que deixaram pelo menos 210.000 mortos.