Foguetes contra Israel são lançados por grupos mais radicais que o Hamas
GAZA - Vários pequenos grupos islamitas de Gaza, ainda mais radicais que o Hamas, violam com disparos de obuses a trégua que este tenta manter com Israel, provocando retaliações. Em 2010, estes grupos dispararam dezenas de foguetes e obuses de fabricação caseira contra o território israelense, e intensificaram os ataques com a aproximação do segundo aniversário da operação "Chumbo Grosso", lançada em 27 dezembro de 2008 justamente para reprimir estas agressões.
Em 21 de dezembro, um foguete caiu perto da creche de um kibutz israelense, ferindo uma adolescente e provocando a ira do Estado de Israel. Desde o fim da operação "Chumbo Grosso", em janeiro de 2009, o Hamas respeita uma trégua com Israel, mas estas pequenas organizações independentes continuam disparando obuses.
Estes grupos, que se definem como "salafistas", preconizam um retorno às práticas do islã original, e se dizem influenciados pela Al-Qaeda. Segundo Abu al-Bara al-Masri, que se apresenta como um de seus chefes, há atualmente cinco grupos "jihadistas salafistas" no território: Jund Ansar Ala, Jaich al-Islam, Tawhid wa Jihad, Jaich al Umma d Ansar al Sunna. Juntos, contam com centenas de membros.
Abu Hamza al Maqdisi, dirigente do Ansar al Sunna, acusa o Hamas de ter abandonado seus princípios religiosos. "Não temos a intenção de declarar o Hamas apóstata (...), mas achamos que a aplicação da sharia é necessária", insiste, mencionando por exemplo a obrigação do véu integral para as mulheres, a proibição do tabaco e a fundação de um emirado islâmico.
Este fundamentalismo e a vontade de continuar combatendo Israel sem trégua levaram estes grupos a uma posição de enfrentamento em relação ao Hamas. A tensão alcançou o ápice em agosto de 2009, quando o Jund Ansar Ala proclamou uma mesquita de Rafah (sul da Faixa de Gaza) "emirado" islâmico. As forças armadas do Hamas invadiram a mesquita e reprimiram violentamente os fundamentalistas, deixando 24 mortos.
"Desde então, fomos processados e detidos; nossas famílias foram ameaçadas para convercer-nos a nos render", denunciou Abu al Masri. "Eles prendem os mujahedin (combatentes islâmicos) e os torturam. Não torturam tanto os colaboradores de Israel como fazem com os combatentes que disparam foguetes" contra o Estado israelense, acusou.
Um porta-voz do Hamas, Taher al Nunu, desmente qualquer perseguição contra os grupos salafistas: "nós respeitamos todos aqueles que trabalham de acordo com a lei e os acordos palestinos". No entanto, os grupos salafistas continuam evasivos sobre eventuais laços com a Al-Qaeda, cujo jihadismo globalizado se afasta do objetivo dos movimentos palestinos, que se concentram na luta contra Israel. "Apoiamos nossos irmãos da organização dirigida pelo xeque Osama bin Laden", indicou Abu al Masri.