Especialistas defendem oferta de exílio a Kadafi
"Kadafi está contra a parede. Se não oferecermos a ele uma saída, ele vai lutar até o último homem e a última bala, sem dúvidas", explicou Fawaz Gerges, especialista em Oriente Médio da London School of Economics.
Oferecer-lhe a opção de exílio reduziria os riscos de ver esse país preso a uma guerra civil muito longa, julgou. "Mesmo que os rebeldes triunfem em duas ou três semanas, a situação vai ficar tensa e será muito mais caótico e perigoso", argumentou o especialista.
O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, mencionou abertamente essa possibilidade domingo, a 48 horas da reunião em Londres com a presença de mais de quarenta países e organizações, com o objetivo de evidenciar um novo cenário político para a Líbia, após a intervenção internacional.
A ministra espanhola das Relações Exteriores, Trinidad Jimenez, também destacou que um exílio era "juridicamente" possível, já que Muamar Kadafi não foi ainda acusado e nem está sendo procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Várias capitais, entre elas Londres, pareceram inicialmente hostis a qualquer solução que permitisse ao ditador escapar de perseguições, mas elas podem mudar de posição.
Apesar de alguns países como a Grã-Bretanha quererem que o coronel Kadafi preste contas perante a justiça, na realidade, eles "vão aproveitar a oportunidade" de vê-lo deixar o país, julgou Shashank Joshi, do Royal United Services Institute.
"Qualquer que seja o desejo dos rebeldes, as potências ocidentais que participam da intervenção na Líbia têm como preocupação primordial que esta crise não acabe em banho de sangue".
Mas em qual país o coronel Kadafi poderia encontrar refúgio? Improvável que seja na Arábia Saudita, como aconteceu com o ex-presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali, de acordo com o especialista, que relembra as críticas do líder líbio contra a família real.
O refúgio mais provável poderia estar em um dos países que mantêm relações estreitas com o coronel Kadafi, em primeiro lugar a Venezuela, em razão de sua amizade com Hugo Chávez. Outra possibilidade: Zimbábue ou ainda "um lugar que ainda não foi mencionado como Burkina Faso".
A escolha por um país africano parece muito provável, já que o coronel Kadafi se utilizou da riqueza proveniente do petróleo para financiar muitos países deste continente, bem como a União Africana.
Além disso, "mesmo que esteja claro que ninguém ainda pensou seriamente sobre o assunto, o mecanismo para permitir que Kadafi parta em exílio seria muito simples", considerou Shashank Joshi.
Depois de sua reabilitação internacional em 2003, o líder líbio dispõe de canais pelos quais ele poderia informar aos países ocidentais que quer partir, explicou. A coalizão poderia, então, preparar "um corredor aéreo" dentro da zona de exclusão para deixá-lo escapar.
Segundo analistas, isto deve, no entanto, constituir uma última chance para Muamar Kadafi, que poderia ser ainda negociada com outros países que não as grandes potências habituais.
"Por isso, espero que deem aos italianos e a União Africana uma margem para manobras suficiente para tentar ver se Kadafi se interessa. Isso não deve partir dos líderes ocidentais", informou Fawaz Gerges.