Washington, Londres, Paris e Otan defendem a necessidade de derrubar Kadafi
TRÍPOLI - A Grã-Bretanha, a França e os Estados Unidos classificaram nesta sexta-feira como algo fundamental para o futuro da Líbia a saída do coronel Muamar Kadafi, o objetivo principal das operações da Otan na Líbia.
No terreno, os rebeldes avançaram para testar a linha de frente no leste do país, e aviões sobrevoavam o oeste a região de Zenten, onde tanques foram destruídos por ataques aéreos na noite de quinta para sexta-feira.
Em um artigo comum publicada em quatro jornais, David Cameron, Nicolas Sarkozy e Barack Obama consideraram "impossível imaginar que a Líbia tenha um futuro com Kadafi". "Não se trata de expulsar Kadafi pelo força. (...) Mas é impensável que alguém que tenha tentado massacrar seu povo de um papel no futuro governo líbio", consideraram os três líderes.
Para acelerar sua saída, eles consideram que "a Otan e os parceiros da coalizão devem manter suas operações para que a proteção de civis seja mantida e para que a pressão sobre o regime aumente".
O ministro francês da Defesa, Gérard Longuet, admitiu que, com esta posição, os três países "certamente" estão saindo da resolução 1973 da ONU sobre a Líbia.
Países como a Rússia, a China e o Brasil, "vão naturalmente bater os pés. Mas qual é o grande país que pode reconhecer que um chefe de Estado pode regulas seus problemas fazendo disparos de canhão contra o seu povo?", acrescentou.
De fato Moscou, por meio de seu ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov, disse de novo na sexta-feira que a Otan extrapolou o mandato da ONU.
"É importante passar de maneira urgente para a fase política e avançar para uma regulação política e diplomática" da crise líbia, disse Lavrov após uma reunião com seus colegas da Aliança Atlântica em Berlim.
Na quinta-feira, os chefes da diplomacia da Aliança adotaram uma declaração de três pontos, que devem ser satisfeitas antes que possa ser discutido um cessar-fogo: todos os ataques contra os civis devem cessar; os militares devem retornar as suas casernas e se retirar de todas as cidades onde estão mobilizados ou que estejam cercando, como Ajdabiya, Brega e Misrata; enfim uma ajuda humanitária deve poder ser fornecida como toda a segurança para todos aqueles que precisarem.
A Otan havia também "endossado firmemente" o apelo ao coronel Kadafi para que se retire, lançado pelo Grupo de Contato durante a sua reunião de quarta-feira em Doha.
Alheio a tudo isso, o coronel Kadafi a circulou de carro na quinta-feira à noite pelas ruas de Trípoli: de óculos escuros e chapéu verde, erguendo os punhos em um veículo de teto aberto, segundo imagens exibidas pela televisão líbia.
A televisão mostrou dezenas de pessoas aclamando o líder, enquanto eram registrados ao mesmo tempo "ataques dos agressores colonialistas cruzados". Segundo jornalistas da AFP, aviões sobrevoaram na quinta-feira Trípoli, onde fortes explosões foram ouvidas, seguidas de disparos de baterias anti-aéreas.
Consultada pela AFP, a Otan afirmou em um primeiro momento que nenhuma aeronave da Aliança tinha sobrevoado a cidade à tarde, antes de reconhecer à noite que seus aviões poderiam ter atacado dois alvos nas imediações de Trípoli, ou até mesmo dentro da cidade.
Nesta sexta-feira, um comboio de veículos rebeldes se dirigiu de manhã para o oeste de Ajdabiya, no leste da Líbia, para verificar se as forças do coronel Kadafi tinham se recuperado.
Um repórter da AFP, parado em um posto de controle rebelde, ouviu disparos de foguetes executados pelos rebeldes sem resposta aparente das forças pró-Kadafi. Aviões da Otan sobrevoavam a região, enquanto que era possível ouvir também explosões, sem que fosse possível estabelecer se eram bombardeios.
No oeste, ataques visaram na noite de quinta para sexta-feira de tanques das forças pró-Kadafi na região de Zenten, onde confrontos se intensificavam com os rebeldes que detêm o controle de várias cidades da região. Uma testemunha indicou que aviões ainda sobrevoavam a região nesta sexta-feira.
No plano humanitário, a Otan e a UE reforçaram a sua associação para uma operação humanitária preparada pelos europeus em Misrata (leste de Trípoli). Uma reunião deve ser realizada "nas próximas semanas", mas a data não foi fixada.
Ao longo da ilha italiana de Lampedusa, 221 pessoas foram salvas nesta sexta-feira de manhã. "Elas estavam a bordo de uma embarcação de 15 metros que havia deixado Misrata, na Líbia, há quatro dias", segundo a guarda costeira italiana.