Em Nova York, Obama defende ataques contra extremistas e Dilma aposta no diálogo
Para especialistas, presidente americano não está errado
Nesta quarta-feira (24), durante reunião da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu os ataques americanos contra extremistas do grupo Estado Islâmico (EI). “O Estado Islâmico deve ser debilitado. Esse grupo aterrorizou todos os lugares que passaram. Mães, irmãs e filhas foram violentadas. Crianças inocentes foram assassinadas a tiros. Mataram minorias religiosas de fome. Nada justifica esses atos. Não pode haver negociação. A única linguagem compreendida por assassinos como esses é a da força”, afirmou.
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Obama disse ainda que "com a tecnologia, pequenos grupos podem causar grandes danos, utilizando os métodos mais brutais para intimidar as pessoas. Vamos usar nosso poderio militar em uma campanha aérea contra os extremistas". E fez um apelo: "Todos juntos devemos tomar medidas concretas para enfrentar o fanatismo religioso. Hoje, peço ao mundo que se some a este empenho. Não vamos sucumbir a ameaças. O futuro pertence aos que constroem, não aos que destroem".
As declarações de Obama foram contestadas por Dilma Rousseff, que disse “lamentar enormemente” os bombardeios. A presidente falou em seu discurso na Cúpula do Clima que “o Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU”, mas criticou o Conselho de Segurança, dizendo que “tem de ter maior representatividade para impedir essa paralisia diante do aumento dos conflitos em todas as regiões do mundo”.
Também nesta quarta-feira, extremistas ligados ao Estado Islâmico divulgaram um vídeo em que mostram o francês Hervé Gourdel sendo decapitado. O presidente francês Fraçois Hollande confirmou a morte do homem, que foi sequestrado no último domingo, na Argélia. Recentemente três homens foram sequestrados e mortos por membros do EI. James Foley e Steven Sotloff eram jornalistas americanos e David Hanes um ativista humanitário britânico.
Leonardo Paz, coordenador de estudos e debates do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), condena a morte de civis, mas disse concordar em parte com a fala de Obama. “Não assino embaixo todas as palavras, mas estamos falando do grupo mais extremista de que se teve notícia. A própria Al-Qaeda já condenou o EI por ser muito radical. Eles não só atacam o Ocidente como aqueles que não seguem seus dogmas extremistas. Eles são brutais. Algo deve ser feito para conter esse grupo, algo que envolva força e não diálogo, como sugeriu a presidente Dilma”.
Leonardo explica que “os civis que estão no território de guerra são os que mais sofrem. Se você está em guerra, se torna um deslocado interno ou refugiado e não tem acesso aos bens públicos e sociais. Além disso, esses grupos capturam pessoas e estupram mulheres. Qualquer um que seja do Ocidente ou que seja muçulmano não-extremista está sujeito”.
Paz ressalta que os extremistas uniram Arábia Saudita, Síria e Estados Unidos. “Unir esses três países é porque a situação é realmente muito complicada. Todos estão contra esses grupos. Não existe diálogo porque eles [os extremistas] acreditam na violência como forma de punição”.
Sobre os civis sequestrados, Leonardo acredita que “não parecia haver negociação. Eles morreram para dar um recado, para provocar os países que os condenam. Pode haver outras pessoas sequestradas, que os extremistas podem estar tentando negociar a libertação. Infelizmente, o sequestro como arma de negociação e ameaça é muito comum”.
O professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Flávio Rocha de Oliveira, explica que "o Estado Islâmico não é um Estado propriamente dito. É um grupo, muito bem preparado e articulado, que está se autodenominando Estado e quer dominar a sua área. Não é um Estado reconhecido. Por isso não dá para falar em diplomacia". Ele diz ainda que "o uso da força foi a opção que restou para impedir que o caos se instale".
Flávio acredita que "não tem como fazer diálogo com o EI a curto prazo. O grupo surge como consequência da invasão do Iraque e da guerra civil da Síria. Esses ataques criaram condições para o surgimento do Estado Islâmico". Sobre o sequestro de civis, o professor definiu como um "ato de represália". Para ele, "os extremistas quiseram mostrar que estavam dispostos a continuar na guerra. Depois dos ataques americanos, as negociações ficaram em suspenso. Mas negociar é possível e não me surpreenderia se saísse na mídia internacional que países tentaram negociar a libertação de seus cidadãos em troca de prisioneiros ou de dinheiro".
Para o presidente do CEBRI, Luiz Augusto de Castro Neves, com seu discurso, Obama quer “responde a questões internas. Ele é acusado de ser fraco, então está agindo como um ‘falcão’. Os Estados Unidos estão sendo confrontados no limite de seu poder. O Obama mostrou relutância em mandar tropas para a Síria. Ele quer mostrar que é o presidente da nação mais poderosa do mundo”.
Contudo, Luiz Augusto acredita que “não há solução possível” para resolver as questões políticas que envolvem o EI e os Estados Unidos. “Eles [os extremistas] são de uma enorme selvageria. Não se trata de gente civilizada”. Para ele, “os civis são as maiores vítimas dessa guerra, eles não tem nada a ver com isso. Não sei se há outros sequestrados, mas é provável que sim. Só quem pode dizer se há negociação é quem está na linha de frente, mas eles não parecem um grupo aberto a isso”.