‘FT’: Venezuela e Arábia Saudita, amigos serão amigos
O jornal britânico Financial Times publicou nesta sexta-feira (7/11) uma matéria de Andres Schiapani sobre a tentativa da Venezuela, junto à Opec, de evitar que o preço do petróleo continue caindo. “Ali al-Naimi, ministro do petróleo da Arábia Saudita, e Rafael Ramírez, chanceler da Venezuela se reuniram na ilha de Margarita na quarta-feira (5/11) paralelamente a uma conferência sobre clima. No momento em que as frequentes quedas no preço do petróleo continuam aumentando a pressão sobre alguns membros da Opec, especialmente a Venezuela, havia muita expectativa.
“Somos grandes amigos!” exclamou Ramírez ao chegar à ilha de Margarita. Mais tarde, ele tuitou falando sobre “a excelente reunião” de “países irmãos”. Mas as conversas foram mais sobre mudanças climáticas e quase não se falou sobre preços, política da Opec, ou o excesso de fornecimento de petróleo bruto. Ramírez apenas afirmou que a constante queda do preço do petróleo é uma “preocupação para todos.”
Isso fez com que alguns se perguntassem o que estava acontecendo. No mês passado, Ramírez – que ainda atua como o líder da delegação da Opec depois de desempenhar a função de presidente da estatal PDVSA – convocou sem sucesso uma reunião de emergência com o grupo de países produtores. Mas a Arábia Saudita não parece compartilhar do mesmo desconforto de Ramírez sobre uma necessidade de ação para baixar a produção e levantar os preços do petróleo”.
De acordo com a matéria do Financial Times, “alguns observadores dizem que a viagem de al-Naimi’s para a América Latina traz de volta lembranças dos anos 1990, quando fez parte dos esforços para subir os preços do petróleo depois que a competição da Arábia Saudita com a Venezuela e o México os pressionaram para baixo (na próxima semana, o ministro saudita deverá comparecer a um fórum de gás em Acapulco, no México, país que não é membro da Opec)
A Opep deve promover um encontro em Viena no final do mês, mas muitos analistas dizem que dificilmente deve haver um movimento para subir os preços. Seriam más notícias para as finanças da Venezuela, que depende fortemente do preço do petróleo – o petróleo responde por cerca de 95% das receitas de exportação. A Oxford Economics escreveu esta semana que uma queda de um dólar no preço do petróleo cru representa uma perda estimada de US$ 700 milhões em receitas para o país”.
O jornalista prossegue: “A Venezuela tem grandes reservas de petróleo bruto mas suas reservas estrangeiras terão que fazer frente a grandes pagamentos de dívida. Os preços cada vez mais baixos do petróleo podem pressionar até o limite, num momento em que encolhe a popularidade do presidente socialista, Nicolás Maduro.
Aparentemente, as coisas não vão nada bem. Um barril de Brent, a classificação global do petróleo, atualmente é comercializado ao preço de cerca de US$ 82. Mas a Venezuela precisa de um preço referência a US$ 162 para equilibrar seu orçamento, segundo o Deutsche Bank. A cesta de petróleo da Venezuela, comercializada com desconto ao Brent devido ao seu maior conteúdo de petróleo pesado, caiu para US$ 75.79 na semana passada”, diz o artigo.
“A Venezuela, ao lado de seu parceiro regional de esquerda Equador – o menor membro da Opec mas também muito dependente das exportações de petróleo cru – está trabalhando numa proposta para que a Opec evite que os preços continuem caindo.
Entretanto, a Citgo, refinadora da Venezuela nos Estados Unidos, ainda parece estar à venda mesmo depois que o ministro das finanças do país disse na semana passada que essa venda estava descartada. Uma venda traria algum alívio para as finanças da Venezuela e viria a calhar se os preços do petróleo seguirem caindo e se os amigos sauditas não atirarem um osso a Caracas”, conclui a matéria do jornal britânico.