Alemanha revive dor e superação nos 25 anos de derrubada do Muro de Berlim
Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, em maio de 1945, o mundo estava dividido entre dois regimes: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, capitaneado pela antiga União Soviética (URSS). A nova composição de forças afetou a Alemanha e, especialmente, Berlim, que foi marcada duramente pela construção do muro cujo aniversário de derrubada se comemora neste domingo (9).
25 anos depois, na capital alemã da reunificação, o que antes era um longo muro de concreto foi substituído por balões de luz, em uma linha de 15 quilômetros, para relembrar que barreiras precisam ser quebradas na mente das pessoas todos os dias. Neste domingo, na grande festa pública que foi preparada em homenagem à reunificação, os balões serão lançados aos céus às 19 horas (hora de Berlim), como um símbolo de paz e unidade.
Pelo acordo de Potsdam, assinado meses depois do final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha nazista, derrotada no conflito, foi divida em quatro zonas de ocupação, sendo três delas destinadas aos aliados do Ocidente (Estados Unidos, França e Reino Unido) e uma ao governo soviético. Dessa divisão nasceram, em 1949, a República Federal Alemã (RFA), de orientação capitalista, e a República Democrática Alemã (RDA), comunista.
A criação da RDA fez com que, de 1949 a 1961, quase 3 milhões de cidadãos deixassem a Alemanha Oriental para fugir do regime comunista. Em 12 de agosto de 1961, o governo do Leste anunciou a construção de um muro para frear a trânsito de pessoas entre as duas partes do país. Menos de 30 dias depois, o Muro de Berlim estava pronto, separando ruas, praças, regiões e, principalmente, pessoas. Familiares e amigos ficaram sem se ver por anos. O servidor público Jens Preissler, que vivia na Alemanha Oriental, lembra que ficou sabendo da morte de sua sogra, mas a família não pôde atravessar a fronteira para acompanhar o funeral. “Não tínhamos liberdade de ir e vir. Não era permitido”, conta.
A jornalista brasileira Fátima Lacerda, que vive em Berlim há 26 anos, se lembra bem quando, em outubro de 1961, dois meses após a construção do Muro, tanques americanos e soviéticos ficaram em posição de ataque, na barreira de Friedrichstrasse, chamada de Checkpoint Charlie. Na visão dos aliados ocidentais, ao impedir o trânsito livre pela Alemanha, a URSS tinha violado o acordo assinado em 1945. “Por horas, os dois poderes militares ficaram ali, frente à frente, a uma distância de poucos metros. O sentimento que a gente tinha era de que, a qualquer momento, poderia começar a terceira guerra mundial”, lembra ela.
Cerca de 100 mil cidadãos tentaram, de várias maneiras, deixar a Alemanha Oriental entre 1961 e 1988. Mais de 600 deles morreram, de acordo com dados do governo alemão. A estação de Friedrichstrasse era o ponto oficial de acesso entre as duas partes da Alemanha. Para passar pelos portões, era preciso ter autorização do governo e o controle era muito rigoroso. Quando alguém atravessava de um lado para o outro, não dava realmente para saber se aquela pessoa um dia voltaria. Não é à toa que a estação ficou conhecida como o Palácio das Lágrimas. No local, imagens e recordações de momentos de separação e despedida emocionam os visitantes.
Em 1989, as condições para a reunificação estavam dadas. Mikhail Gorbachev, que havia ascendido ao poder em 1985, encabeçou uma reforma que previa maior liberalização da União Soviética. A Hungria já havia aberto suas fronteiras para que alemães orientais passassem para o outro lado do território. A embaixada da Alemanha em Praga, na antiga Tchecoslováquia, autorizou milhares de cidadãos do Leste, que acamparam no local em busca de apoio, a migrarem para o Oeste. No dia 9 de novembro de 1989, em uma conferência de imprensa transmitida ao vivo pela televisão, o porta-voz da RDA, Günter Schabowski, anunciou que o governo estava autorizando viagens para o estrangeiro. Quando um jornalista perguntou a partir de quando passaria a vigorar essa nova regra, ele se confundiu (a previsão era para a manhã seguinte), e respondeu: “Segundo meu conhecimento, isso entra em vigor agora, imediatamente”.
A resposta causou uma corrida aos postos de passagem da fronteira. Com a pressão, os guardas, que não estavam preparados, acabaram cedendo e permitiram que as pessoas passassem. Imediatamente, manifestantes tomaram o Muro e começaram a destruí-lo. O professor de História, Karsten Krieger, que na época tinha 21 anos, é um dos que usou um martelo para quebrar pelo menos uma pequena parte da imensa barreira de concreto que separava o país. Ele conta que não tem palavras para descrever o que sentiu naquele momento. “Foi muito estranho. Às vezes você é tomado por sentimentos que você não consegue descrever. Pra mim não foi um ato exatamente político. Foi mais uma vontade imensa de acertar e destruir aquela coisa”, lembra.