Em menos de 5 horas, Turquia repele golpe de Estado
Militares tentaram realizar uma revolta contra Erdogan
O Ministro do Interior da Turquia, Efkan Ala, afirmou que a tentativa de golpe de Estado no país foi repelida pelas forças leais ao presidente Recep Tayyip Erdogan e ao primeiro-ministro Binali Yildirim.
Segundo ele, os líderes da revolta foram presos, e a situação está "largamente sob controle". O golpe teria sido liderado pelo oficial Muharrem Kose, removido do Estado-Maior em março passado, mas Erdogan acusou o movimento Gülen, liderado pelo clérigo exilado nos Estados Unidos Fethullah Gülen, de estar por trás da revolta.
Gülen, que nega qualquer envolvimento, lidera uma ampla organização que se diz laica, mas prega uma vertente moderada do Islamismo. Considerado um dos muçulmanos mais influentes no mundo, o clérigo era aliado do presidente, mas rompeu com ele em 2013, após o governo ter fechado instituições de ensino gülenistas.
O Estado-Maior do Exército da Turquia havia anunciado no fim da noite nesta sexta-feira (15) a tomada do controle do país. "Para recuperar nossos direitos humanos, constitucionais e democráticos, estamos oficialmente assumindo o controle", dizia uma declaração da ala das Forças Armadas responsável pela revolta.
Definindo a garantia do Estado de Direito como "uma prioridade", os militares chegaram a decretar toque de recolher e lei marcial, suspendendo liberdades fundamentais, vetando manifestações, censurando opiniões e restringindo o direito de ir e vir.
Ignorando o toque de recolher, multidões contrárias e favoráveis ao golpe desceram às ruas de Ancara em Istambul, que registraram confrontos em várias regiões. Além disso, soldados e policiais - estes últimos fiéis a Erdogan - trocaram tiros. Na capital, 13 militares teriam sido detidos em uma tentativa de invasão ao palácio presidencial. Por outro lado, segundo a "CNN Turk", 17 policiais morreram nos tiroteios.
Como começou - Por volta das 22h (horário local), tiros foram ouvidos em Ancara, capital do país, onde caças faziam voos rasantes e helicópteros militares tomavam os céus. Em seguida, foram fechadas as duas pontes sobre o estreito de Bósforo, em Istambul, no sentido Ásia-Europa - no caminho inverso, o tráfego seguiu fluindo.
Logo depois foi bloqueado o acesso às redes sociais, e militares invadiram a sede da TV estatal (agora já libertada). Além disso, tanques se dirigiram ao Aeroporto Internacional de Ataturk, em Istambul, o mais movimentado do país.
A sede do partido AKP, fundado por Erdogan e liderado por Yildirim, também foi invadida pelos militares. "Os autores [do golpe] pagarão o preço mais alto", garantiu o premier. Nos últimos meses, o presidente Erdogan vinha sendo acusado de promover uma deriva autoritária no país, atingindo até alguns de seus antigos aliados.
Além disso, o país convive com a ameaça do terrorismo do Estado Islâmico (EI) e de grupos separatistas curdos. O partido AKP, fundado por Erdogan, é acusado de interferir na justiça para abafar casos de corrupção e de censurar a imprensa. Para isso, fechou jornais opositores e afastou juízes tidos como "adversários".
Erdogan foi primeiro-ministro até 2014, mas ao fim de seu mandato se elegeu presidente, mantendo o poder em suas mãos, apesar de a Turquia ser parlamentarista. Nos últimos meses, vem tentando emplacar uma mudança para o regime presidencialista, o que lhe daria ainda mais força.
"Ainda sou presidente da Turquia e comandante-em-chefe. Resistam ao golpe de Estado nas ruas e nos aeroportos", disse o mandatário, por meio de um vídeo transmitido via smartphone, após o anúncio do golpe. Durante toda a revolta seu paradeiro era desconhecido, mas logo após o anúncio da vitória governista ele aterrissou em Istambul.
Apesar da derrota dos golpistas, a crise na Turquia pode ter efeitos incalculáveis. O país faz fronteira com a Síria e integra a coalizão internacional contra o Estado Islâmico. Além disso, faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar do planeta.
Na política interna, Erdogan pode ganhar o argumento ideal para seguir seu processo de concentração de poder e de repressão a grupos adversários. (ANSA)