'Washington Post': Será o fim do papel da América como defensor da liberdade?

Artigo faz uma reflexão sobre ideologia política de Donald Trump

Por

O jornal norte-americano The Washington Post traz nesta terça-feira (21) um longo artigo do Nicolas Bouchet, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Londres. Ele conduz pesquisas sobre os desafios e perspectivas para os Estados Unidos e a UE na promoção da democracia nos países pós-soviéticos (especialmente os da Parceria Oriental da UE) e nas relações entre os Estados Unidos, a UE e a Rússia. 

No início do editorial, Nicolas lembra que em 2 de abril de 1917, quando o presidente Woodrow Wilson pediu ao Congresso declarou guerra contra a Alemanha, ele não só colocou os Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial. Ele também deu a declaração seminal do que lentamente se tornou uma vertente central da política externa dos EUA. 

"O mundo deve estar seguro para a democracia", declarou. 

"Sua paz deve ser plantada sobre os fundamentos testados da liberdade política". 

O centenário do discurso de Wilson marca efetivamente o da promoção da democracia americana, aponta o autor. Ironicamente, também coincide com o início de uma presidência que os observadores podem ver como o final deste capítulo na história dos Estados Unidos.

> > The Washington Post Is this the end of America’s role as a defender of freedom?

Bouchet afirma que ao contrário da maioria de seus predecessores, o Presidente Trump certamente não é dado a falar de "democracia" e "liberdade". Seu elogio a líderes autoritários está bem documentado e ele disse que a América não deveria dar lições a outros países. A filosofia política dos principais conselheiros e partidários como Stephen K. Bannon e Peter Thiel mistura populismo nacionalista e libertarismo extremo de formas que lançam a democracia como uma reflexão tardia, senão pior.

A expansão da democracia é um dos pilares do Wilsonianismo. Assim como o livre comércio, a segurança coletiva e a liderança internacional dos EUA, como mostra Tony Smith em um novo livro sobre o legado do 28º presidente, fala o professor para o Post. Em todas as quatro frentes, Trump é provavelmente o menor presidente Wilsoniano desde que Wilson deixou a Casa Branca.

Para Wilson e aqueles que tentaram colocar sua cosmovisão na prática nos últimos 100 anos, o interesse próprio, tanto quanto o idealismo, ditou que os Estados Unidos deveriam tentar tornar o mundo mais democrático, descreve Nicolas em seu artigo. 

Wilson argumentou que a agressão da Alemanha, que causou a guerra da Europa e arrastou os Estados Unidos para ela, resultou de um governo inexplicável. A ameaça à paz veio de "governos autocráticos apoiados por uma força organizada que é totalmente controlada por sua vontade, não pela vontade de seu povo", aponta o pesquisador. Desde o início, tornar o mundo seguro para a democracia tem sido tanto sobre como tornar o mundo seguro para a América.

Esse argumento Wilsoniano claramente não ressoa com Trump, destaca o texto do diário norte-americano. Ele não está, contudo, sozinho nisso. Seus partidários nacionalistas, jacksonianos, estão pouco interessados em uma missão universal de tornar outras sociedades mais livres. 

Aqueles, como Trump, que há muito criticaram como as idéias de Wilson se tornaram enraizadas no pensamento da política externa dos EUA (e produziram falhas como a Rússia e o Iraque quando levadas longe demais) gostariam de uma mudança de direção, conclui Nicolas para Washington Post

Para finalizar alerta que Ignorar o legado de Wilson pode ser importante em um momento em que o mundo parece estar se tornando inseguro para a democracia. Não são apenas organizações como a Freedom House que estão tocando os sinos sobre as liberdades políticas corrompidas em muitos países. O Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos afirma que a democracia a nível global não pode ser tomada como certa e que o crescente número de países que misturam características democráticas e autocráticas ameaça a estabilidade internacional.