Apesar de onda de protestos, Putin assume hoje 4º mandato sem adversários para enfrentá-lo
Nesta segunda-feira, o ex-agente da KGB Vladimir Putin, 65, entrará no Kremlin como faz há 18 anos, como o homem mais forte da Rússia. Porém, com uma pequena diferença. Hoje é a data da posse de seu quarto mandato como presidente, cargo que deixará apenas em 2024. Assim como no início de seu governo anterior, em 2012, ele enfrenta manifestações contrárias ao seu legado em diversas cidades do país. No sábado, cerca de 1.500 pessoas foram presas por protestar em locais proibidos. O principal nome da oposição, Alexei Navalny, foi detido e liberado na madrugada de ontem.
O barulho nas ruas, no entanto, parece reverberar mais no exterior do que na própria Rússia. Essa é a opinião de especialistas como Fabiano Mielniczuk, professor de Relações Internacionais da ESPM-Sul: “Navalny tem apoio de aproximadamente 2% da população. Ele não concorreu nas eleições por ter sido condenado na Justiça por acusações de corrupção, num processo controverso. Ele parece mais uma construção artificial do Ocidente, que busca uma alternativa ao consenso nacional que se criou em torno da figura de Putin”. Quando Putin foi eleito presidente pela primeira vez, em 2000, após exercer o cargo de primeiro-ministro por um ano, após a renúncia de Boris Yeltsin, o país estava em frangalhos. Agora, a Rússia recuperou parte de sua prosperidade e respeito na comunidade internacional, mudança que é atribuída por muitos a Putin, eleito em março com 76,6% dos votos, seu melhor resultado até hoje. Para os críticos, no entanto, há falta de liberdade e violações dos direitos humanos, assim como corrupção e fraudes nas votações.
Após as manifestações de 2011 e 2012, o governo aprovou leis para limitar a quantidade de protestos em centros urbanos. Para realizar uma passeata, por exemplo, é preciso registro prévio e autorização, o que permite às autoridades esvaziar a dissidência, indicado locais de baixa visibilidade para as manifestações. Mielniczuk explica que as “medidas entraram em vigor em 2014, no contexto das manifestações de rua em Kiev, na Ucrânia, que levaram o país à derrubada do presidente e a uma guerra civil que já matou 10 mil pessoas”.
Segundo o professor, as “autoridades de Moscou veem a influência de atores externos nesse movimentos, que buscam desestabilizar a Rússia, que tem se apresentado como um entrave aos interesses dos Estados Unidos e da Europa”. No caso dos protestos do fim de semana, os opositores não aceitaram as áreas designadas pelo governo para as manifestações. Como as passeatas ocorreram em locais proibidos, houve repressão das forças de segurança e prisões. A mesma coisa aconteceu na véspera da posse de Putin em 2012. Para Beatriz Pontes, mestranda em Relações Internacionais da UERJ, Navalny é um dos críticos mais inflamados de Putin. O que não faz com que sua voz tenha grande repercussão na sociedade russa: “Os protestos não vão aumentar e nem ameaçam a governabilidade. As pessoas acreditam que só o Putin é capaz de conduzir a Rússia. Em outras palavras, segue o baile”.
Nascido em 7 de outubro de 1952 em uma família operária que vivia no quarto de um apartamento comunitário de Leningrado (hoje São Petersburgo), Putin conseguiu muito mais do que se esperaria dele. Graduado em direito, entrou para a KGB e atuou como agente de inteligência no exterior. De 1985 a 1990 foi enviado a Dresden, na Alemanha Oriental. Após o fim da URSS, ele se tornou assessor de relações exteriores do prefeito de São Petersburgo. Em 1996, passou a trabalhar no Kremlin. Em 1998, foi eleito diretor do FSB - que substituiui a KGB - e um ano depois foi nomeado primeiro-ministro pelo então presidente Boris Yeltsin. Mas o que esperar após 2024, será o fim do baile de Vladimir Putin? “Poucos arriscam um cenário depois dele. Ele vai continuar forte. Quem entrar vai precisar de sua benção”, diz Beatriz.