'A Wild man dance' de Charles Llloyd
Em 2013, o saxofonista Charles Lloyd celebrou o 75º aniversário com o lançamento do CD Hagar's song, em duo com Jason Moran – pianista que, apesar de ter a metade de sua idade, é tido como o mais criativo surgido na cena jazzística desde Brad Mehldau. Foi o 16º registro do mestre do sax tenor (e de outras palhetas), em geral à frente de um quarteto, para o selo ECM, desde Fish out of water (1989).
Assim é que foi surpreendente a notícia de que Lloyd assinou um contrato com a Blue Note Records, e que o primeiro disco na nova casa (autodenominada “The finest in jazz since 1939”) será lançado no dia 14 de abril. Trata-se de uma suíte composta pelo icônico músico, intitulada Wild man dance, comissionada pelo Jazztopad Festival de Wroclaw (Breslau), na Polônia, onde foi apresentada, pela primeira vez, em novembro de 2013.
De acordo com release distribuído pela Blue Note, a nova obra, de seis movimentos, é desenvolvida por um sexteto formado pelo atual quarteto de Lloyd (Gerald Clayton, piano; Joe Sanders, baixo; Eric Harland, bateria), mais Sokratis Sinopoulos (lira grega) e Miklos Lukacs (cimbalom húngaro). O cimbalom é um antigo instrumento de cordas, com formato de um tabuleiro, no qual as cordas nele esticadas são tocadas com golpes de marteletes (mallets).
Depois de ter ouvido e apreciado a interpretação de Wild man dance, por este grupo, no EFG London Jazz Festival, em novembro último, o crítico John Bungey, do londrino The Times, escreveu: “Sua nova suíte não é uma mistura híbrida de world music, os instrumentos simplesmente acrescentando cores novas aos devaneios soulful, meditativos, de Lloyd. Ele lidera um jovem e brilhante conjunto que tocou, com sofisticada delicadeza, composições abstratas, porém sem jamais perder o fio da meada”.
Ao vivo ou em estúdio – como já escrevi nesta coluna quando do lançamento de Hagar's song – as litanias desse feiticeiro do saxofone são tão envolventes e cool como as de Lester Young, mas podem elevar-se em espirais cromáticas à la John Coltrane. Contudo, o som, o fraseado e a postura zen de Charles Lloyd são únicos.
É ele mesmo quem diz: “Venho de uma tradição de wild yogis. Sou um homem dos blues numa jornada espiritual. Os blues surgem de uma busca pela liberdade. Meu rumo espiritual é a procura da libertação da alma”.
O próximo mês de abril será especialmente marcante na já consagrada carreira de Lloyd.
No dia 20, ele receberá a distinção que confirma sua entronização no Olimpo do jazz: o título de jazz master da NEA (National Endowment for the Arts), em cerimônia a ter lugar no Jazz at Lincoln Center, lá no Columbus Circle, em Manhattan.
Dois dias antes, também em Nova York, numa sala muito especial do Metropolitan Museum of Art, o sexteto do saxofonista-compositor apresentará a première norte-americana da suite Wild man dance.