Vijay Iyer é reeleito músico do ano no referendo da Downbeat

Por Luiz Orlando Carneiro

Pelo segundo ano consecutivo o pianista-compositor Vijay Iyer, 44 anos, novaiorquino filho de imigrantes indianos – e também graduado em matemática e física por Yale – foi o mais votado na eleição anual dos críticos (2015-2016) promovida pela revista Downbeat na categoria “artista do ano”.

Do 64º referendo da DB – cujos resultados completos estão na edição de agosto da “bíblia do jazz” - participaram 142 críticos do mundo todo. Vijay Iyer conseguiu um total de 94 pontos, derrotando, pela ordem, os saxofonistas Kamasi Wahington (85 pontos) e Charles Lloyd (76), e a compositora-chefe de orquestra Maria Schneider (73).

Vale lembrar que o hoje eminente músico consolidara o seu prestígio em 2012, quando foi também escolhido, no mesmo referendo, ao mesmo tempo, “artista do ano” e a mais brilhante “estrela em ascensão” (rising star), além de autor do “álbum do ano” - o CD Accelerando(ACT Records).

Em entrevista à DB, Vijay Iyer comenta que a palavra “jazz” não é “um termo confortável” para rotular a música que faz, por ser mais usado para caracterizar um tipo de expressão musical como “ítem de venda”. Ainda segundo o compositor-pianista, “a música está se sobrepondo e se conectando em novas formas, novos meios de expressão”. Cita como seus mentores os vanguardistas Steve Coleman, Butch Morris, Roscoe Mitchell e o trombonista-compositor George Lewis. E dentre os mais jovens com os quais está afinado, em matéria de concepção musical, refere-se apenas ao também pianista Robert Glasper, 38 anos.

Mas, neste 64º Critics Poll da Downbeat, o mais premiado foi o emergente Kamasi Washington, 35 anos, que surgiu como um cometa no céu do jazz, vindo de Los Angeles, onde começou a ser conhecido como sideman de artistas pop como Chaka Khan e de orquestras jazzísticas de prestígio, como a do saudoso Gerald Wilson (1918-2014). Washington venceu em três categorias: melhor álbum, com o CD triplo The Epic (Brainfeeder); “estrela em ascensão” na categoria “jazz artist”; e também rising star na divisão dos saxofonistas tenores.

The Epic é saudado na edição de agosto da DB, pelo crítico Josef Woodard, como “uma declaração jazzística multidirecional, incluindo, orgulhosamente, um retrocesso em termos de tempo e de estilo, mas com deferências liberais aos mundos dos herois Pharoah Sanders e John Coltrane, além de partes corais e de cordas que podem sugerir obras de Donald Byrd ou Alice Coltrane”.

O registro fonográfico triplo de Kamasi Washington somou 151 pontos, à frente de The Thompson Fields (Artistshare), da orquestra de Maria Schneider (110 pontos), e de For One to Love (Mack Avenue), da vocalista Cécile McLorin Salvant (48 pontos).

Quanto à new star Cécile Salvant, 26 anos – filha de mãe francesa e pai haitiano - vale lembrar que ela foi a vencedora, em 2010, da Thelonious Monk Jazz Competition, o mais importante certame internacional destinado à projeção de novos talentos.

No 64º referendo anual da Downbeat, o magnífico pianista Randy Weston – que comemorou o 90º aniversário em abril deste ano – foi eleito para o “Hall of Fame”, ganhando de Anthony Braxton e de Don Cherry (1936-1995). Já era (mais do que) tempo!

(Faixas do álbum triplo The Epic podem ser ouvidas em: soundcloud.com/kamasiwashington/sets/the-epic)