A cena exposta
É curiosa a tendência atual: parece que todo espetáculo quer vir acoplado a um outro “produto”, seja ele um livro, um movimento ou, mais constantemente, uma exposição fotográfica. A conexão entre o teatro e as artes plásticas, que tomou os palcos recentes, ganha um novo desdobramento com essas mostras. As propostas são variadas: R e J – Juventude interrompida , em cartaz no Espaço Sesc, em Copacabana, aproveitou a apropriação realizada pelo dramaturgo Joe Calarco para o Romeu e Julieta , de William Shakespeare, para contemplar os espectadores com fotos de atores que encarnam múltiplas facetas de Romeu; Solidão, a comédia , monólogo que toma conta do Teatro Candido Mendes, em Ipanema, é complementado por registros visuais dos anos em que o besteirol vigorou nos palcos brasileiros; A agonia do rei , que chegará ao Teatro Glauce Rocha, no Centro, dia 27, será emoldurada por uma exposição em homenagem ao ator e diretor Luís de Lima, respon sável pela tradução do texto de Ionesco; e a Sutil Cia., que mostra três espetáculos de seu repertório no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, exibe uma instalação que inclui filme realizado a partir de material relativo aos seus 18 anos de atividade.
Intitulada Shakespeare – Retratos de uma festa luminosa , a primeira exposição reúne cinco ensaios fotográficos, cada um a cargo de um profissional diferente (André Mantelli, Paula Klein, Paula Kossatz, Robert Schwenck e Sergio Baia), a partir de alguma versão, teatral ou cinematográfica, de Romeu e Julieta . As escolhidas foram os filmes West side story (1961), de Robert Wise, Romeu e Julieta (1968), de Franco Zeffirelli, e Romeo + Juliet (1996), de Baz Luhrmann, e as montagens do clássico a cargo de Antunes Filho e do Grupo Galpão.
– Cada fotógrafo teve a liberdade para se basear ou não num trecho específico do texto – explica Pablo Sanábio, ator de R e J e responsável pelo projeto da exposição. – Essas versões de Romeu e Julieta fo ram bem marcantes. Lembro como fiquei impactado quando vi o espetáculo do Galpão.
Na época, ainda morava em Juiz de Fora.
A exposição traz fotos de 36 atores – entre eles, Caio Blat, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Rodrigo Nogueira, Erom Cordeiro, Miguel Thiré, Thiago Martins, Guilherme Winter e o elenco de R e J – clicadas em teatros do Rio de Janeiro – Teatro Municipal, João Caetano, Oi Casa Grande, Galpão Aplauso e Teatro de Arena Carvalho Neto. Todos trabalharam de graça, e a renda será revertida para a ONG Aplauso. As fotos aparecerão reunidas ainda num livro, com lançamento em fevereiro, que contará com textos de dramaturgos sobre os ensaios.
Também transitando pelo terreno do clássico, o diretor e ator Dudu Sandroni decidiu prestar justa homenagem a Luís de Lima (1925-2002) através de uma exposição, que começará a ser apresentada na estreia de A agonia do rei .