Falta unificar o discurso

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Governo descarta racha entre aliados No dia em que tomou posse, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, defendeu a abertura dos arquivos da ditadura. Algumas horas depois, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito Siqueira, disparou que os mortos da ditadura devem ser encarados como fato histórico.

Sem contar o fato de governo e PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, ameaçar aprovar no Congresso um salário mínimo maior que o estipulado pelo governo, caso não seja contemplado em suas exigências na distribuição dos cargos no Executivo.

Na última semana, outro desencontro de informações. Após o secretário de Políticas Sobre Drogas, Pedro Abramovay, defender o fim da prisão para pequenos traficantes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, veio a público afirmar que a intenção do governo é exatamente oposta ao que foi defendido pelo secretário.

Naturalidade Apesar do desencontro inicial, o governo afirma que isso faz parte do co meço de qualquer gestão. O líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP), afirma, inclusive, que a discussão em torno dos cargos do segundo escalão é “bem menor do que se esperava”, e nega que os aliados estejam divididos. Assim como o líder do PT, Fernando Ferro (PE): – São tensões naturais do início de governo – ameniza.

A oposição, por sua vez, não poupa críticas. A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) avalia que o início pode ser difícil, mas, pelo desenrolar dos fatos, ela acredita que as divergências tendem a aumentar.

– A partir de fevereiro, o que nós vimos até agora será café pequeno – alfineta.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), acredita que possa haver brechas para atuar enquanto os governistas brigam: – A oposição pode, numa divisão, conseguir derrubar matérias que não sejam de interesse da sociedade.

Para Paulo Kramer, cientista político da UnB, o governo ser composto com partidos tão diferentes dificulta o entendimento. E o fato de os parlamentares poderem tomar posse no Executivo sem efetivamente se desligarem do cargo é um dos componentes para os atritos, que devem se acentuar.

– São muitos ministérios, o que é muito difícil de administrar – avalia.