Castigo Arcaico

Escolas norte-americanas ainda punem fisicamente seus alunos

Por Dan Frosch, The New York Times

Enquanto a imagem do diretor rondando os corredores da escola com palmatórias nas mãos é passado para grande parte das pessoas, o castigo físico permanece presente em cerca de 20 estados dos Estados Unidos. A informação é do Centro de Disciplina Eficaz, grupo que rastreia este tipo de punição no país e luta por seu fim. A maioria dos estados está localizada no Sul, onde a palmatória permanece inserida nos costumes sociais e familiares de algumas comunidades.

A cada ano, os legisladores destes estados discutem se a punição física é uma forma arcaica de abuso infantil ou uma forma eficaz de disciplinar. Em meados de março, o adolescente Tyler Anastopoulos, aluno da escola City View High School, em Wichita Falls, no Texas, contou sua história a legisladores do Estado, que estão considerando proibir o castigo corporal. 

Ao ser pego matando aula, ele recebeu o mesmo castigo que alguns estudantes têm recebido há várias gerações. O aluno do 2° ano do Ensino Médio foi mandado para a sala do assistente do diretor e recebeu três pancadas nas mãos com uma palmatória. Segundo sua mãe, Angie Herring, os golpes foram tão fortes que causaram hematomas, o que a fez procurar atendimento médico em um hospital. 

Para Herring, as escolas do Texas parecem ter liberdade para disciplinar os alunos como quiserem, “contanto que não os matem”.

– Se eu fizesse isso com o meu filho, seria presa – se revolta. 

Steve Harris, presidente do Observatório Independente de Escolas de Wichita Falls, se recusou a comentar o caso, mas afirmou que a investigação feita por ele na escola de Tyler não demonstrou nenhum delito. Ele diz que castigos corporais têm sido, há muito tempo, uma das ferramentas disponíveis para disciplinar os alunos.

A fundadora do Centro de Disciplina Eficaz, Nadine Block, explica que, de fato, há 25 anos, a punição física era aplicada nas escolas públicas de quase todo os Estados Unidos. Mas, assustados com a quantidade de processos e pesquisas que questionavam sua eficácia, os estados foram gradualmente proibindo a prática.

De acordo com estimativas do Departamento Federal de Educação, entre 2005 e 2006, 223.190 crianças foram sujeitadas a castigos corporais nas escolas dos Estados Unidos. 

– No Texas, pelo menos mil escolas ainda usam a palmatória para disciplinar seus alunos – revela Jimmy Dunne, fundador do Pessoas Contra a Palmatória, outro grupo que luta contra esta prática. 

Ele tem esperança que uma das leis que regulam o assunto seja aprovada ainda este ano. Uma delas visa permitir o uso de castigos corporais apenas quando haja consentimento dos pais. Outra quer banir totalmente a punição física nas escolas. 

– Bater em crianças nas escolas é abuso infantil, além de ser um incentivo para que isso aconteça em casa também – diz Dunne, ex-professor de matemática.

No Novo México, onde, de acordo com um grupo local de direitos infantis, mais de um terço das escolas públicas faz uso da palmatória, os legisladores aprovaram, no início deste mês, a proibição da prática. O senador Vernon Asbill é contra a lei e acredita que a proibição irá atar as mãos dos professores, dificultando o controle dos estudantes.

– Acredito que o uso da palmatória seja apropriado, com a supervisão e aprovação dos pais. Esta prática faz as crianças se manterem na linha, para que possam aprender  – argumenta o deputado republicano.

Já a senadora democrata Cynthia Nava defende que escola não é lugar de violência.

– É chocante que as pessoas ainda defendam esse tipo de coisa. Tínhamos que estar educando as crianças para que elas possam resolver os problemas causados pela violência – afirma.

Os pedidos para o fim da punição física estão cada vez mais recorrentes, mesmo em estados improváveis de aprovar a proibição da palmatória. 

No Mississippi, a família de um adolescente processou a escola que o castigou com o instrumento. O processo defende que o castigo corporal é inconstitucional porque é aplicado desproporcionalmente nos meninos. 

O advogado da família, Joe Murray, também representa outro estudante da mesma escola. No segundo caso, Murray afirma que o menino foi golpeado com tanta força que desmaiou e quebrou a mandíbula.