Heloisa Tolipan
McQueenmania ou... o fabuloso mundo de McQueen em NY
“The sun is shinning in New York...”. Sim... podem dizer que eu voltei americanizada. Mas, a semana que passei em NY foi histórica. E para o mundo todo. Sob todos os pontos de vista. Explico: a) estava lá no dia em que o presidente Barack Obama visitou Nova York em um momento único: logo após a morte de Osama Bin Laden, quase 10 anos depois dos atentados de 11 de Setembro; b) mergulhei na ode a Alexander McQueen (1969-2010), que tomou conta de Manhattan. No dia seguinte à festa de abertura da exposição Alexander McQueen – Savage Beauty, no Metropolitan Museum of Art, encarei a fila do Costume Institute para conferir quase uma centena das criações do estilista britânico, considerado “um dos mais influentes, criativos e inspiradores para os designers da virada do milênio”, conforme a chancela impressa pelo Met no calendário comemorativo da expô.
Comentei com um amigo fashionista paulistano, que também curtia uma semana nova-iorquina: “Uma exposição tão linda como essa é para sentar e chorar”. Bem que o curador da mostra, Andrew Bolton, já tinha nos deixado claro em entrevistas que se inspirou em uma tatuagem que o estilista britânico tinha no braço direito com uma frase de Shakespeare em Sonho de uma noite de verão: “Love looks not with the eyes, but with the mind” (O amor enxerga não com os olhos, mas com a mente)”.Tal qual um alquimista, a fórmula de McQueen era moda = amor + agonias + êxtases. E foi de forma intensa e dramática que ele viveu, amou e morreu. Para o subtítulo da mostra, Bolton recorreu a Savage mind, de Claude Lévi-Strauss, obra na qual o antropólogo francês analisa as relações sociais na tentativa de desvendar as leis da humanidade. Bolton fala ainda dos desenhos de McQueen, verdadeiras obras de arte: “românticos, no sentido ‘byroniano’ da palavra. E seus desenhos são expressões dos mais profundos sentimentos, em muitas ocasiões, obscuros, diante dos aspectos de sua imaginação”. Me joguei na loja do Metropolitan, repleta de mimos celebrando o espírito vanguardista do designer. Livros, calendários... tudo o que você puder imaginar da McQueenmania com toda aquela aura de drama e romantismo que ele inspirou. O livro em homenagem ao estilista britânico faz mélange do gótico vitoriano, do romantismo nacionalista, das influências da cultura japonesa sobre o personagem e a capa é a síntese da dicotomia de vida e morte, na qual ele sempre esteve imerso.
Vida e morte, belo e feio, luz e escuro... opostos de uma vida que foi encerrada com o suicídio. Mas o eco da homenagem a McQueen com sua pegada vanguardista e criativa se espalhou como um grito em megafone nesta primavera em Manhattan. As mais luxuosas ou mais famosas lojas de departamento estão em sintonia com a exposição e dedicam vitrines e mais vitrines ao ícone da moda. Depois da história da morte de Osama e do encantador casamento do príncipe William com a plebeia Kate Middleton nada dá mais Ibope em Nova York. E os contrastes entre o céu azul, o sol e as flores refletidos nas vitrines, muitas vezes com ar dark e sombrio by McQueen, criam um interessantíssimo amálgama moda-subversão-eternidade. Eu fiz questão de registrar com a minha minicâmera: a Saks Fifth Avenue é uma delas e a diretora de moda, Colleen Sherin, outra fascinada pelo mundo McQueeniano, optou pelas criações do estilista para as coleções de primavera 2003 e 2008. Vale ressaltar que a coleção #08 foi concebida em homenagem à amiga Isabella Blow, que, um ano antes, cometeu suicídio.
Quatro imensas janelas da Bergdorf Goodman se tornaram vitrines para o trabalho de pesquisa de Trino Verkade, arquivista da obra de Alexander McQueen. Nelas, estão expostos fragmentos de trabalhos do icônico estilista realizados nos últimos doze anos. “Projetamos essas vitrines depois de passarmos várias semanas pesquisando a obra de McQueen. Analisamos cada traço dele, bem como vídeos de todos os seus desfiles. Ao fazer isso, descobrimos a sensibilidade única de Alexander”, comentou o ex-assistente de criação do mestre eterno.
E, se posso resumir McQueen, ele seria formado por: elementos góticos, o amor à natureza, iconoclastia, formas inusitadas, como roupas, armaduras, alfaiataria rigorosa, uso impressionante de materiais, artesanato requintado. Entre outras revelações, descobrimos que em McQueen há seriedade de propósito, com muitas semelhanças com a arte contemporânea britânica. “Cada vitrine é diferente da outra, mas, além delas, criamos um gabinete de curiosidades, uma misteriosa floresta, e uma instalação de vídeo mostrando clipes de uma década de desfiles de McQueen”, contou Trino, desejando uma ótima visita à loja.