Cidadania à distância
Itália decide seu futuro energético nas urnas, e imigrantes poderão dar sua opinião
Nos dias 12 e 13 de junho acontecerá, na Itália, um referendo que decidirá, entre outras questões, se o país deve ou não construir usinas nucleares. A votação também será válida para todos os cidadãos italianos que moram no exterior e que, em 2001, conquistaram o direito de participar de votações italianas de qualquer tipo, com exceção das municipais. No Brasil, cerca de 220 mil pessoas poderão participar desta decisão.
Além de definir sobre a questão nuclear, o referendo tratará de outros três assuntos. Entre eles, um bastante popular, que diz respeito à revogação da lei de número 51, de 7 de abril de 2010, que impede que o Presidente do Conselho de Ministros – o polêmico Silvio Berlusconi – e os demais ministros, compareçam a audiências penais durante o tempo em que exercerem seus cargos. Os outros dois assuntos são mais técnicos e tratam do fornecimento de água no país.
Segundo o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Itália, Pietro Petraglia, a população deve se fazer presente nas urnas.
– Acho excelente que o governo italiano dê a oportunidade de quem reside no exterior poder participar das decisões políticas. Os imigrantes lutaram bastante para ter esse direito reconhecido e por isso é justo que a população vote, dando sua opinião sobre o referendo, que traz duas questões muito importantes para o país – defende Petraglia, brasileiro cuja família é oriunda da província de Salermo.
Para votar, os italianos que moram no Brasil devem estar inscritos nas listas do Consulado relativo à sua área de residência. Essas pessoas receberão em casa, até o dia 29 de maio, a documentação eleitoral completa, contendo as cédulas de votação e as instruções sobre as modalidades do voto. Depois de preenchidas, as cédulas devem chegar aos consulados pelo correio até o dia 9 de junho e, depois, serão enviadas à Itália.
Energia italiana
A Itália é o único país do G-8 – grupo dos países mais ricos e industrializados do mundo – que não possui centrais de energia nuclear. Além de importar energia nuclear, tem investido em fontes renováveis, como a eólica e a solar, cujo setor cresceu rapidamente desde 2007, quando o governo pôs em prática uma série de incentivos.
Depois de fechar as usinas nucleares há mais de 20 anos, o plano inicial do governo era de voltar à energia atômica, apesar dos acidentes no Japão. No entanto, a opinião pública se opôs à ideia após as explosões em Fukushima, e o assunto da matriz energética agora será resolvido nas urnas, já que o governo italiano declarou, em março, moratória de um ano para projetos nucleares.
Segundo Pietro Petraglia, o governo teme que os recentes acontecimentos no Japão influenciem a decisão da população.
– A grande maioria está se posicionando contra a energia nuclear, pois a Itália é um país com grande índice de abalos sísmicos. Apesar de achar que esta seja uma fonte de energia limpa e importante, vou votar contra porque tenho medo não só das questões naturais, mas também da gestão futura dos resíduos da energia nuclear.
O dentista Marco Del Carlo, nascido em Nápoles e residente no Rio há 20 anos, também se diz contra o uso da energia nuclear.
– A Itália importa muita energia atômica e pode continuar importando. É um pouco difícil que a população não seja influenciada pelos acidentes no Japão, mas acho que antes destes acontecimentos os italianos já eram contrários ao uso desta energia – afirma Del Carlo.
A posição do povo tem ficado clara nas redes sociais. No Facebook, a comunidade “Eu não quero a energia nuclear na Itália” e “Não à energia nuclear” – ambas criadas por italianos – têm 264 mil e 56 mil adeptos, respectivamente. Uma simulação feita na Sardenha e publicada ontem pela imprensa, mostra que 98% da população disse não à energia nuclear.