É chegada a hora de Descomemorar o Golpe Militar

Por Walmyr Junior*

O golpe militar no Brasil está completando 50 anos no próximo 1º de abril. Para ir à contra mão desta celebração, por parte de forças militares reacionárias e conservadores, a comissão da Verdade do Rio de Janeiro junto com a Sociedade Civil e Movimentos Sociais estão com uma agenda de descomemoração da ditadura.

No do dia 13 de março de 1964, data próxima do golpe que derrubou o presidente da República, João Goulart, foi realizado o histórico Comício da Central do Brasil no Rio de Janeiro. Nele estiveram 150 mil pessoas, incluindo autoridades, representantes de partidos políticos e de movimentos sociais. Jango tornou público seu programa das reformas de base para o país, incluindo a tão sonhada reforma política. Seu discurso foi um dos estopins para o golpe militar do dia 1º de abril.

Para dar início ao calendário de descomemoração do Golpe de 1964, a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro (CEV), em parceria com o Instituto João Goulart, realizou na ultima quinta-feira (13), às 15 horas, ato denominado "O Brasil que perdemos com o golpe militar", que teve por finalidade fazer memória dos 50 anos do Comício da Central do Brasil.

O evento começou na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com uma cerimônia que contou com a presença da ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, a viúva do ex-presidente João Goulart, Maria Thereza Goulart, e o presidente da CEV, Wadih Damous. Após essa cerimônia cerca de 500 militantes foram para a Central do Brasil e conduziram o ato em memória ao comício de Jango.

Sabendo que o golpe militar impediu o desenvolvimento econômico do país, o calendário montado pela Comissão da Verdade fortalecerá a luta pela Verdade, Memória e Justiça e será um instrumento fundamental nas mobilização para ações massivas que eventualmente vão ocorrer.

Para o Secretário geral da União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ) essa pauta permite dar centralidade a uma agenda que une os movimentos sociais. Segundo Felipe Malhão “é importante ter uma agenda que ajuda a não só descomemorar o golpe militar, mas que dialoga com o avanço da democracia. Queremos construir uma agenda que permita reivindicar a democracia que de fato a população quer, sabemos que o fruto do regime militar foi a exclusão de muitos dos nossos direitos. Tendo em vista que a participação da população está muito a quem do que poderia ser, vemos que somente com uma reforma política poderemos garantir a intervenção da sociedade nessa conjectura.”

Para Malhão “a reforma política é a mãe de todas as reformas, com a garantia dela teremos a possibilidade de ver a reforma da saúde, a reforma agrária, a reforma tributária e tantas outras. O comício de Jango em março de 1964 apontava para esse caminho, e por apontar para esse caminho ficamos a mercê de uma ditadura que torturou, sequestrou e sumiu com muita gente. Por isso essa agenda é importante para nós. Ela abraça um anseio da população de lutar por uma autentica democracia”.

A reforma do sistema político, é necessária para avançar na conquista da democracia e é necessária para dar conta de todas as necessidades dos setores mais oprimidos. Mais do que nunca está na hora de todos os movimentos sociais e toda sociedade civil se unificarem para juntos construirmos o plebiscito popular pela constituinte da reforma política. Com mobilizações para endossar essas pautas, que se aproxima dos anseios e exigências da sociedade civil, conheceremos a amplitude da mobilização para descomemorar a ditadura e os estigmas que deixaram em nossa história.

* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.