Já dizia Dom Helder Câmara: “carnaval é alegria popular”
Estão chegando os dias da folia carnavalesca e, entre esses dias de preparativo das fantasias, serpentinas e confetes, me pegava refletindo sobre a festa da alegria. O carnaval é um fenômeno curioso que não pode ser facilmente estudado, foi feito para ser vivido, para ser experimentado e sentido.
Dom Helder Câmara, durante sua crônica radiofônica chamada “um olhar sobre a cidade” da Rádio Olinda AM em 1 de fevereiro de 1975, fazia uma célebre orientação para que o povo católico brincasse o carnaval.
Dizia ele: “Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que na quarta-feira a luta recomeça, mas ao menos se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”
Dom Helder nunca abriu mão da responsabilidade social que trazia consigo como Bispo e cidadão. Mas ele sabia que nos quatro dias da festa do povo, o sofrimento era esquecido, a angústia superada, o medo enfrentado e a paz de espírito alcançada.
O carnaval tem destas coisas. Basta uma bateria tocar, um marchinha ser anunciada, uma fantasia surgir bela pelas ruas que o coração do folião já é tomado pelo mistério da alegria. Tal qual uma mãe espera seu filho em uma gravidez, o folião espera 11 meses para ver sua escola na avenida, espera 11 meses para ver o seu bloco passar.
Que a alegria do carnaval não permita que esse tempo de festa seja um tempo de violência, morte e opressões.
*Walmyr Junior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ