Polícia britânica prende dezenas de ativistas antimonarquistas durante coroação do rei Charles III
Entre os presos, estava o presidente do grupo Republic, Graham Smith
Em seu caminho até a coroação deste sábado (6), na Abadia de Westminster, em Londres, o rei Charles III viajou em uma carruagem dourada por ruas decoradas com bandeiras vermelhas, brancas e azuis do Reino Unido. Tudo dentro do 'script', exceto as centenas de manifestantes republicanos que foram às ruas da capital inglesa para protestar contra a monarquia britânica.
A maioria dos manifestantes, apoiadores do grupo Republic, se reuniu na região da Trafalgar Square, um dos pontos do trajeto feito pela carruagem que levou o rei e a rainha consorte Camilla ao local da cerimônia. Eles levaram cartazes contrários à realeza, como "abaixo a monarquia", "não é meu rei" e "cidadãos, não súditos".
Segundo a Aliança de Movimentos Republicanos da Europa, a polícia prendeu organizadores do protesto. Um porta-voz do grupo Republic relatou que dezenas de ativistas foram detidos, o que a ONG Human Rights Watch (HRW) considerou como ação "muito preocupante" do governo britânico. Entre os presos, estava o presidente do grupo Republic, Graham Smith.
Um vídeo nas redes sociais mostra policiais confiscando bandeiras antimonarquistas no meio do protesto. Nas imagens, um manifestante alerta uma policial que o grupo está sendo "empurrado" pela polícia. "Há crianças aqui", diz o integrante do protesto.
Também foram detidos 19 manifestantes do grupo ambientalista Just Stop Oil. Eles pretendiam fazer um protesto durante a passagem da procissão do rei Charles III contra o uso de petróleo e gás no Reino Unido.
A polícia britânica havia dito que teria "baixa tolerância" para iniciativas de perturbação da ordem durante a coroação. E, na manhã deste sábado, manteve a palavra.
Abaixo a realeza
As pesquisas de opinião sugerem que a oposição e a apatia à monarquia estão crescendo. Em um estudo recente do Centro Nacional de Pesquisa Social, apenas 29% dos entrevistados consideram a monarquia "muito importante" - o nível mais baixo nos 40 anos de pesquisa do centro sobre o assunto. A oposição era maior entre os jovens.
Alguns argumentam que é grotesco gastar milhões em pompa e ostentação em meio a uma crise do custo de vida que trouxe uma inflação de 10%, levou milhares de britânicos a assistência alimentar e desencadeou meses de greves de enfermeiras, professores e outros trabalhadores em busca de salários mais altos.
Diante da apatia, milhões de britânicos optaram por participar de eventos alternativos durante a coroação, incluindo um show em Glasgow, capital da Escócia, da banda Scottish Sex Pistols, recuperando o espírito dos punks que cantaram "God save the queen, the fascist regime" durante o jubileu de prata da falecida rainha em 1977.
Colonialismo questionado
O Império Britânico, com seu Parlamento e a família real de então, foram sócios fundamentais do comércio escravista e colonial. Com o sangue de milhões de africanos levados à força para monoculturas e de colônias ao redor do mundo, o Reino Unido desenvolveu sua economia e garantiu um papel de destaque na economia mundial.
A Commonwealth - comunidade Britânica de Nações que conta com 56 países - hoje reúne algumas das ex-colônias britânicas. Uma parte de seus países reconhece Charles III como chefe de Estado. Mas há rachaduras e questionamentos. Em 2020, Barbados deixou de reconhecer Elizabeth II como monarca e se tornou uma república, embora tenha preferido continuar fazendo parte da Commonwealth.
Jamaica, Antigua e Barbuda expressaram planos semelhantes recentemente. A Commonwealth também conta com países como Austrália, Camarões, Nigéria, África do Sul e Índia.