Brics: Dilma se reúne com Putin e defende 'desdolarização' no comércio internacional
Discurso contrário ao dólar é uma frequente entre países rivais dos Estados Unidos, como China e Rússia
Atual chefe do New Development Bank (NDB) – conhecido como "Banco do Brics" -, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff se reuniu, nesta quarta-feira (26), com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. No encontro, Dilma voltou a atacar a hegemonia do dólar nas transações internacionais. Ela defendeu o uso de moedas locais, como o yuan chinês, em trocas entre países emergentes - termo genérico que inclui o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, cujas iniciais formam o acrônimo Brics.
“Não tem nenhuma justificativa para que os países em desenvolvimento não possam estabelecer entre si troca em moeda local. A nossa estratégia 2022-2026 estabelece que 30% das nossas captações têm de ser em moeda local”, disse Dilma.
As declarações foram concedidas durante a 2ª Cúpula Rússia-África, Fórum Econômico e Humanitário, em São Petersburgo. Antes do encontro, Dilma rejeitou a noção especulada de que o banco dos Brics pudesse fazer novos empréstimos à Rússia, acossada pelas sanções internacionais lideradas pelo Ocidente devido à invasão da Ucrânia em 2022.
Na mesma linha, Putin ressaltou que os países do Brics devem trabalhar em prol de interesses comuns, inclusive na esfera financeira. Ele afirmou que pagamentos em moedas nacionais no comércio entre os países do bloco estão se expandindo e avaliou que o NDB pode desempenhar um papel neste tema. Putin acrescentou que o dólar tem sido usado como um instrumento de luta política.
O discurso contrário ao dólar, denunciado como "arma geopolítica" pela mesma Dilma em palestra em Pequim no começo do mês, é uma frequente entre países rivais dos Estados Unidos, como China e Rússia, e entre os que buscam não ser alinhados automaticamente, como o Brasil.
O Fórum
Durante o Fórum, Dilma exaltou a presença de líderes de países africanos e mencionou “uma história de abandono” do continente. Segundo ela, o NDB não fará imposições às nações da região em troca de empréstimos.
“Cabe destacar que a expansão dos membros do NDB não tem os mesmos requisitos e critérios aplicáveis à expansão dos membros do grupo geopolítico BricsS. Hoje o banco já tem entre seus membros Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos”, apontou.
De acordo com o NDB, os encontros de Dilma nesta quarta serviram para discutir a próxima Cúpula do Brics, a ser realizada na África do Sul em agosto, e outros temas relevantes, como a expansão de membros da instituição. Dilma também teve uma reunião bilateral com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Alvo de uma ordem de prisão expedida pelo Tribunal Penal Internacional, Putin não comparecerá à Cúpula do Brics, entre 22 e 24 de agosto.
“Por acordo mútuo, o presidente Vladimir Putin da Federação Russa não participará da reunião de cúpula, mas a Federação Russa será representada pelo ministro das Relações Exteriores, o senhor (Sergei) Lavrov”, informou na semana passada Vincent Magwenya, porta-voz de Cyril Ramaphosa.
A África do Sul mantém uma postura de neutralidade sobre a guerra na Ucrânia, mas é “acusada” por parte da comunidade internacional de ter simpatia maior por Moscou. Em junho, Ramaphosa liderou uma missão africana com representantes de sete países, entre eles Egito, Senegal e Zâmbia, com viagens a Kiev e São Petersburgo.