Documento inédito revela que papa Pio XII sabia do Holocausto
Carta do pontífice emergiu dos Arquivos do Vaticano
Um documento descoberto nos Arquivos Vaticanos lançou uma nova luz sobre os eventos da Segunda Guerra Mundial, revelando que o papa Pio XII sabia dos campos de concentração nazistas e do extermínio em massa dos judeus.
O documento inédito foi revelado pelo caderno "La Lettura", do jornal italiano Corriere della Sera.
A descoberta foi possível graças a Giovanni Coco, arquivista e pesquisador do Arquivo Vaticano, que classificou a carta como "caso único, de enorme valor".
"Queremos trazer clareza, também para compreender a temporada terrível em que Pacelli guiou a Igreja", considerou.
A revelação deve reacender o debate sobre o apontado silêncio do pontífice sobre essas questões, e pode prejudicar a campanha por sua beatificação, mas o próprio Vaticano decidiu pela transparência ao abrir os arquivos do período.
O historiador disse esperar que os novos documentos "alimentem uma nova consciência": "Debatemos por mais de meio século com base em documentos e fontes indiretas. Agora temos os diretos, e outros provavelmente surgirão. Estamos nos esforçando para torná-los acessíveis a todos".
"Tudo deve vir à tona, sem medo ou preconceito. É o que temos feito nos últimos anos aqui no Arquivo", garantiu.
Se, por um lado, a nova descoberta demonstra que a história daqueles anos, especialmente a respeito do que o Vaticano fez ou deixou de fazer, ainda está por ser escrita; por outro lado, é um sinal do clima de terror e ameaça que chegava até o Sagrado Palácio.
Também sobre isso, o suplemento "La Lettura" publicou a foto de uma faca com uma gravação de uma suástica nazista, que foi encontrada no apartamento de Pio XII por seu sucessor, o Papa João XXIII, que pediu explicações ao então substituto da Secretaria de Estado, monsenhor Angelo Dell'Acqua, que declarou não saber sobre o objeto.
O monsenhor então "consultou a irmã Pascalina Lenhert, oráculo de Pio XII, sua governanta. E a freira revelou que a faca tinha sido levada para uma audiência por um membro da SS [polícia hitlerista] que deveria usá-la contra Pio XII. Mas o soldado se arrependeu e a presenteou ao Papa".
Pio XII chegou a ser solicitado por Myron Taylor, representante pessoal do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, a proferir palavras fortes sobre a perseguição aos judeus, mas não aceitou.
Para o historiador do Vaticano, "outros temores também influenciaram: em primeiro lugar, a possibilidade concreta de represálias nazistas contra os católicos poloneses, seu rebanho de fiéis". (com Ansa)