MUNDO
Morte de Mandela completa 10 anos entre lembranças e desilusão
Por JB INTERNACIONAL
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Publicado em 06/12/2023 às 11:42
Alterado em 06/12/2023 às 11:42
Murais com o rosto sorridente de Nelson Mandela ainda decoram muitos prédios públicos na África do Sul, dez anos após sua morte aos 95 anos, em 5 de dezembro de 2013.
No entanto, para os sul-africanos, Mandela evoca sentimentos mistos, especialmente entre os mais jovens, que vivem em um país onde o desemprego juvenil beira os 60%.
Nelson Mandela tornou-se, em 1994, o primeiro presidente negro eleito democraticamente no país. Ele passou 27 anos na prisão por sua luta contra o apartheid e foi libertado, já idoso, apenas em 1991.
Mandela trouxe orgulho e esperança a um país dilacerado por mais de quatro décadas de apartheid.
Após quase três décadas de governo de seu partido histórico, o Congresso Nacional Africano (ANC), as desigualdades aumentaram, de acordo com o Banco Mundial, a corrupção é generalizada, e os cortes de energia elétrica paralisam a economia e a vida das pessoas.
"Amamos o que ele fez, amamos a liberdade que ele nos deu", disse à AFP Prosper Nkosi, que mora perto da antiga casa de Mandela na township de Soweto, em Joanesburgo, "mas depois de dez anos, não mudou muito, eu gostaria que as coisas melhorassem", acrescentou.
As eleições nacionais estão previstas para a primeira metade de 2024, e as pesquisas indicam que a parcela de votos do ANC pode cair abaixo de 50% pela primeira vez.
"Tenho uma relação de amor e ódio com o velho", diz Sihle Lonzi, de 26 anos, à BBC. Lonzi é líder do ramo estudantil do terceiro partido da África do Sul, o partido de extrema-esquerda Economic Freedom Fighters (EFF), e faz parte de uma geração que cresceu após o fim do sistema racista.
Muito jovens para terem vivido a luta de libertação ou os anos de presidência de Mandela, Lonzi e seus colegas reavaliaram a herança política do ícone anti-apartheid.
Escolhendo cuidadosamente as palavras, Lonzi diz à BBC que Mandela deu ao povo sul-africano liberdade política, mas não econômica.
Anita Dywaba, de 24 anos, bolsista da Fundação das Nações Unidas para a Próxima Geração, disse à BBC que não culpa Mandela pelos fracassos da África do Sul e lembra que ele conseguiu encerrar o apartheid de maneira pacífica.
Mathabo Mahlo, de 24 anos, estudante de mestrado na Universidade Rhodes da África do Sul, também entrevistada pela BBC, diz que sua geração está "desiludida" e muito crítica em relação à herança de Mandela, mas admite que o primeiro presidente negro do país ainda evoca um sentido de esperança do qual o país agora precisa desesperadamente. (com Ansa)