'Toda a população do norte de Gaza corre risco de morrer', diz a chefe de ajuda humanitária da ONU
Auxílios caem para o nível mais baixo desde o início da guerra, mesmo ante pressão dos EUA
Mesmo após o envio de uma carta do governo Biden ameaçando reter ajuda militar a Israel caso a crise humanitária no enclave palestino não melhorasse, Gaza registra agora o nível mais baixo de ajuda desde o início da guerra.
No dia 13 de outubro, o secretário de Estado, Antony Blinken, e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, escreveram ao governo israelense dando ao país 30 dias para "aumentar todas as formas de assistência humanitária" na Faixa de Gaza e "acabar com o isolamento do norte de Gaza" imediatamente.
De acordo com a apuração do "Financial Times", no entanto, apenas 704 caminhões de ajuda humanitária entraram entre 1º e 22 de outubro, segundo dados da ONU, um declínio acentuado em relação à taxa de entradas de setembro, de 3.000 caminhões.
Em sua advertência, os EUA chegaram a afirmar que esperavam que o mínimo de 350 caminhões devesse entrar em Gaza diariamente. Ao todo, apenas 246 caminhões entraram na Faixa de Gaza na semana anterior à carta e apenas 232 na semana seguinte, segundo dados da ONU.
O norte de Gaza continua em grande parte isolado de ajuda e sob bombardeio pesado, com dezenas de milhares de moradores deslocados sob ordens de evacuação forçada. Quase 800 mil pessoas estão enfrentando níveis de "emergência" ou "catástrofe" de escassez de alimentos, de acordo com o jornal.
O último golpe israelense na provisão de ajuda a Gaza se deu no parlamento de Israel que aprovou, na segunda-feira (28), uma lei que proibirá a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) de operar dentro do território israelense.
Autoridades israelenses continuam rejeitando as alegações de que há obstáculos à entrada de ajuda no norte de Gaza de forma mais ampla, dizendo que a ajuda diminuiu no início de outubro porque as travessias foram fechadas para feriados israelenses, enquanto as operações militares restringiram o acesso a outras áreas. Mas argumentam que já havia estoques de ajuda suficientes na Faixa de Gaza, um dado que vem sendo questionado por inúmeros observadores e órgãos internacionais.
As missões humanitárias não têm conseguido cruzar do sul para o norte e poucas entram pelas travessias do norte, embora Cogat — braço do Ministério da Defesa israelense que lida com os territórios palestinos ocupados — tenha dito na terça-feira (29) que 50 caminhões entraram no norte pela travessia de Erez.
Oficiais humanitários na Faixa de Gaza dizem ainda que grande parte da ajuda ou é saqueada antes que possa chegar aos pontos de distribuição, ou atingida por ataques israelenses, ambas quebras flagrantes das regras internacionais resultantes do conflito.
"Toda a população do norte de Gaza corre risco de morrer", disse a chefe de ajuda humanitária interina da ONU, Joyce Msuya, nesta semana.