VILLAS-BÔAS CORRÊA

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Tortura, nunca mais A biografia de Dilma explica o seu temperamento de lutadora desde mocinha A PRESIDENTE ELEITA Dilma Rousseff é um raro exemplo de candidata improvisada, com desempenho modesto durante a campanha nos pífios debates com o candidato tucano, José Serra, em boa parte agravados na série de bate-bocas nas diversas redes de televisão, com segundos para as respostas às obviedades das perguntas de almanaque, mas que se afirmou depois de eleita. -->Parece que são duas pessoas. -->E, de fato, são: o peso da responsabilidade de presidente eleita para o mandato de quatro anos, com direito à reeleição, parece de plumas. A chefe do Gabinete Civil, que lia e estudava os processos de que Lula jamais lia uma única linha para não provocar azia, revelou-se a presidente grata ao seu grande eleitor, mas que pensa com os seus miolos e toma a iniciativa das articula ções com os aliados, com o vice Michel Temer, presidente da Câmara, do insaciável PMDB-SP a tiracolo para aparecer nas fotografias. -->A biografia de Dilma explica o seu temperamento de lutadora desde mocinha. O processo arquivado no Superior Tribunal Militar (STM) reve la que como militante do VAR-Palmares denunciou pela primeira vez as torturas sofridas em maio de 1970, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 22 dias consecutivos, entre janeiro e fevereiro, na rotina da repressão militar. -->Dilma citou nomes de colegas, dos pontos de encontro e aparelhos, as casas de colegas da luta armada. Condenada a quatro anos de prisão. -->Em 1970, com 22 anos de idade, Dilma era uma das líderes da VAL-Palmares e foi presa em 16 de janeiro de 1970. Foi torturada e seviciada durante os 22 dias do seu c o n f i n a m e n t o. -->No interrogatório, confirmou sua participação no VAR-Palmares, mas negou ser terrorista. -->A denúncia Na denúncia do Ministério Público Militar contra Dilma Vana Rousseff Linhares, a Joa na D’Arc da subversão é qualificada como “figura feminina de expressão tristemente notável, que ingressou na subversão em 1967, levada por Galeno de Magalhães Linhares, então seu noivo”. Como membro da Colina, ao lado de Maria de Brito, “chefiou greves, assessorou assaltos e bancos”. -->Agora é a minha vez. Nesses tempos de ditadura militar e tortura, era diretor da sucursal de O Estado de S. Paulo, no Rio. -->E, durante anos, recebi centenas de pedidos de parentes e amigos de presos, para o simples registro da prisão, com dia e hora. Esse simples registro, que passava pela censura, não evitava o desaparecimento, mas reduzia o risco. Vários jornalistas de O Estado de S. Paulo e alguns da sucursal foram presos e torturados. Prudente de Morais, neto, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), foi visitar o atual presidente, Maurício Azedo, barbaramente torturado na prisão. -->A tortura que sempre foi negada pelo governo e pelos militares atravessou décadas. -->Sem falar na tortura de presos comuns, praticada em delegacias e penitenciárias. -->Como explica o Elio Gaspari em seu quarto volume da história da ditadura, “o preso apanha e fala”. -->Ora, chega de hipocrisia. O depoimento da presidente eleita Dilma Rousseff, documentado pelos dezesseis volumes liberados pelo Superior Tribunal da Justiça Militar (STM), e os depoimentos da então vítima são irrefutáveis. -->Chega de mentira.