Governo se rende ao 'toma lá, dá cá'
Previdência leva Planalto a oferecer cargos em troca de votos
Diante da dificuldade para formar a base aliada do governo no Congresso, os principais representantes de Jair Bolsonaro no Parlamento relativizam as negociações com partidos em troca das nomeações do segundo escalão e da aprovação de emendas parlamentares. Com uma reforma previdenciária nada popular para ser votada e um sistema político viciado no "toma lá, da cá", os articuladores não vêem problema em que haja indicação política, contanto que o indicado não seja ficha suja.
O líder do PSL no Senado, major Olímpio (SP), diz que desde a transição, o novo governo "promoveu uma quebra de paradigma no relacionamento entre Executivo e Legislativo". Segundo ele, hoje, nenhuma liderança partidária poderá reivindicar nada do governo sob o argumento de que "foi contemplado com o ministério tal". No entanto, ele realça que não é possível governar tendo adversários em cargos de confiança. "Em todo o mundo, quando se ganha poder há indicações e tem a opção de governança técnica e política. Não se pode governar com aliados e manter na governança os adversários", diz ele, ao ressaltar que o governo está tentando se construir um novo cenário político. "Isso tudo está em processo de construção, É uma fase de adaptação", reforça.
A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), admitiu ontem, após almoço de lideranças parlamentares com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que as indicações serão políticas. "O problema não é a indicação, o problema é a corrupção. O que nós queremos é que pessoas que tenham passado ilibado e vida ilibada e que sejam técnicos capacitados em sua área ocupem os cargos", disse ela, argumentando que "existem espaços para serem ocupados e eles têm que ser ocupados para que a máquina funcione". As declarações foram dadas quando a deputada chegou à Câmara vinda do almoço do qual participaram também os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). "A questão é saber qual é a indicação, e está todo mundo no consenso de que vão se indicar pessoas ilibadas", completou. Segundo a deputada, o governo ainda está desenvolvendo o banco de dados que vai catalogar os nomes e currículos indicados para os cargos vagos.
A deputada também confirmou que no jantar, ocorrido no Palácio da Alvorada, na noite anterior, "o compromisso do presidente e do ministro Onyx Lorenzoni é que não vai ter contingenciamento" de emendas parlamentares no orçamento deste ano. Tanto as indicações políticas para cargos quanto as barganhas feitas com deputados e senadores utilizando as emendas parlamentares são práticas comuns na relação entre Executivo e Legislativo, que o presidente, ainda em campanha, prometeu não usar, mas que os seus emissários no Congresso encontram dificuldade para vencer.