Após tensão, indígenas transferem acampamento na Esplanada

Por PAULO SALDAÑA

Indígenas de todo o Brasil estão acampados na Esplanada dos Ministérios

Os indígenas que participam nesta quarta-feira (24) do Acampamento Terra Livre na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, firmaram acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal para manter a ocupação, mas vão precisar alterar o local das barracas.

Foi acordado com o comando da PM que o acampamento ficará próximo ao Teatro Nacional. Os indígenas haviam chegado pela madrugada a Brasília e levantado barracas no início da Esplanada, na altura do Ministério da Economia. O novo local fica cerca de 1 km mais distante, mas será garantido fornecimento de água e energia, segundo a PM e os indígenas.

A decisão pela chegada dos indígenas ainda na madrugada ocorreu após declarações de Jair Bolsonaro (PSL), que prometeu acionar a Força Nacional contra os manifestantes.

"Não estamos aqui para causar o caos na paz e ordem. Viemos sobretudo por conta da live de Jair Messias Bolsonaro, nosso atual presidente, que instigou, em canal de comunicação aberta, que os indígenas eram desordeiros, que chamou a Força Nacional para tirar esse movimento da Esplanada", disse Hawaty Arfer Jurum Tuxá, liderança indígena do norte da Bahia e coordenador da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).

A reunião com a PM durou mais de uma hora e o acordo foi considerado positivo pelos indígenas. O grupo já acampou no mesmo lugar em 2017.

Por volta das 10h40, os indígenas começaram a levantar o acampamento para transferência de local. Muitos estão paramentados com suas roupas e pinturas típicas.

Não houve revistas ou bloqueios no local. Viaturas da PM se posicionaram no gramado no início da Esplanada.

O movimento montou 13 acampamentos nos arredores de Brasília para organizar a chegada à capital Federal. Parte desse grupo teria sido impedido de chegar à Esplanada, no aguardo do acordo firmado nesta manhã.

Segundo Hawaty, cerca de 2.000 indígenas foram contabilizados na noite de terça-feira (23). A conta final será feita após a entrega das refeições, também organizada pelo movimento. São esperadas cerca de 4.000 pessoas.

Os indígenas articulam uma agenda com o Congresso e com o governo. O acampamento será mantido até sexta-feira (26).

Tensão Em uma live nas redes sociais no dia 11, o Bolsonaro chamou o protesto de "encontrão de índios", disse que "o índio é tão ser humano quanto qualquer um de nós" e que a farra iria acabar.

Na semana passada, em nova live, desta vez com a presença de indígenas, defendeu a exploração mineral em terras demarcadas e criticou a atuação de fiscais do Ibama, da Funai e de ONGs indigenistas (que, segundo Bolsonaro, trabalham em benefício próprio).

Por fim, disse que ONGs e partidos tentam escravizar os indígenas.

No dia seguinte, líderes yanomami divulgaram nota em que afirmam que "não são crianças, somos lideranças e representantes do povo e não estamos sendo manipulados pelas ONGs. Sabemos quem são nossos parceiros, desde antes de a terra ser demarcada eles estavam do nosso lado".