Salles rejeita dado sobre alta do desmatamento em junho, mas não estima qual seria número real

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Ministro de Estado do Meio Ambiente, Ricardo Salles

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, reconheceu nesta quinta-feira que o desmatamento da Amazônia tem aumentado nos últimos anos, mas afirmou que a alta de 88% em junho divulgada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) não é verdadeira, embora não tenha estimado qual percentual seria o correto.

Em entrevista coletiva em Brasília ao lado do presidente Jair Bolsonaro, Salles disse que boa parte do desmatamento computado pelo Inpe em junho ocorreu em períodos anteriores, mas não foi possível detectá-lo devido à "fragilidade" do sistema Deter, que alerta o desmatamento em tempo real na Amazônia.

Questionado sobre qual seria o número verdadeiro do desmatamento na Amazônia em junho, Salles disse que os dados do Deter não permitem mensurar percentual de mês a mês.

"Justamente essa informação de mensurar mês a mês que o Deter explica que não se deve fazer, porque a complexidade dos alertas não produz informação com a acurácia e a precisão necessárias para se afirmar seja um percentual ou outro. Trata-se de uma postura inconsequente atribuir um percentual como esse diante de tantas fragilidades que nós encontramos", disse o ministro.

"Usar essas informações (do Deter) para fazer esse sensacionalismo de percentuais de desmatamento de mês a mês está equivocado tecnicamente e é um erro de análise enorme."

Pelos dados apresentados por Salles, boa parte do desmatamento apontado pelo Inpe como tendo ocorrido em junho deste ano vinha acontecendo desde setembro do ano passado, mas não tinha sido detectado pelo sistema. Ao ouvir isso, o presidente Jair Bolsonaro, ao lado do ministro, comentou: “Aí cai tudo nas minhas costas.”

Ao ser perguntado se então a maior parte do desmatamento vinha de anos anteriores, Salles defendeu que a questão do desmatamento é “apolítica”.

“Portanto não se trata de alocar números de desmatamento em um governo ou em outro, mas simplesmente dizer que isso não aconteceu em junho de 2019 e que portanto o percentual do salto de 88% que foi alardeado está equivocado”, afirmou.

Salles disse ainda que o sistema Prodes, também do Inpe e que analisa a área desmatada da Amazônia no período de 12 meses de agosto de um ano a julho do ano seguinte é o mais adequado para avaliar a evolução da área desmatada.

O ministro informou, no entanto, que o Deter seguirá sendo usado como sistema de alertas de desmatamento em tempo real para auxiliar na fiscalização e que o governo fará uma licitação para contratar mais um sistema de monitoramento para aperfeiçoar o acompanhamento da floresta.

O ministro disse que a intenção do governo não é esconder as informações sobre o desmatamento ilegal da Amazônia, mas defendeu a necessidade de divulgar essas informações com "responsabilidade".

Ele reconheceu que a perda florestal na Amazônia vem crescendo desde 2012 e defendeu a necessidade de identificar os fatores que colocam a floresta sob pressão. Salles fez ainda o diagnóstico que a elevação do desflorestamento mostra que a política recente de comando e controle na fiscalização não tem funcionado.

O ministro defendeu que é preciso encontrar maneiras para que a população que vive na Amazônia tenha condição de trabalhar e produzir na legalidade, para evitar que sejam jogadas em atividades ilegais de desmatamento.

“O que está acontecendo é a consequência natural de quando você nega o desenvolvimento de uma região. A consequência prática é que as pessoas que vivem na floresta são jogadas para a ilegalidade”, defendeu.

Na mesma coletiva em que Bolsonaro disse que informações equivocadas sobre meio ambiente prejudicam o Brasil no exterior e reconheceu que sua fama e a do país está "péssima" lá fora, Salles disse que o governo tem uma política de comunicação para esclarecer a comunidade internacional sobre o que diz ser a real situação do desmatamento da Amazônia.