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Livro conta como Getúlio Vargas tentou esconder papel da URSS na Segunda Guerra Mundial
Por JORNAL DO BRASIL com Sputnik Brasil
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Publicado em 11/09/2022 às 09:28
Alterado em 11/09/2022 às 09:57
Solon Neto - O papel fundamental da União Soviética na vitória contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial foi motivo de preocupação durante o governo de Getúlio Vargas, e gerou censura a notícias sobre o conflito. É o que aponta o livro "O Exército Vermelho na Mira de Vargas", obra que mergulhou em arquivos históricos brasileiros para revelar documentos que mostram os esforços feitos à época para impedir a circulação de notícias sobre a URSS.
João Claudio Platenik Pitillo, um dos autores da obra, explica que o livro apresenta as razões que levaram o governo Vargas a omitir o papel da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo a investigação, as motivações do governo Vargas vão para além do anticomunismo.
"[Vargas] também tinha questões internas para além disso. Não podemos esquecer que, em 1935, o movimento comunista internacional vai apoiar um levante comunista no Brasil que visava depor Vargas e assumir o poder. Então existia também essa questão particular do governo brasileiro em lutar contra o comunismo", aponta Pitillo em entrevista à Sputnik Brasil.
O autor explica essa censura já existia desde 1935, como resposta ao Levante Comunista, mas foi ampliada no Estado Novo em 1937. Segundo a pesquisa, a imprensa brasileira "praticamente ignorou, ou foi obrigada a ignorar" o esforço da URSS da Segunda Guerra Mundial durante os anos de 1941 e 1942, o que não teria sido atenuado nem sequer após a entrada do Brasil na guerra.
Esse quadro começaria a mudar apenas a partir de 1943, mas ainda assim com limitações para inibir possíveis exaltações à "filosofia comunista". Segundo o historiador, sua pesquisa aponta que a censura do governo Vargas buscava impedir que um movimento comunista ganhasse força no Brasil.
"A tentativa de impedir que o brasileiro conhecesse o papel preponderante da União Soviética [na Segunda Guerra Mundial] era para impedir que esse movimento comunista se cristalizasse aqui no Brasil e que fosse visto como um exemplo", acrescenta.
Pitillo salienta que com sua pesquisa percebeu que mesmo sem a censura oficial e com mais liberdade após o período, os jornais brasileiros teriam uma espécie de censura em relação ao peso da URSS na guerra.
"É curioso que a partir de 1943 o governo Vargas não vai ter mais como represar as informações vindas da frente leste, até porque a conjuntura política interna vai mudando. E mesmo com a mudança gradual até 1945, os donos de jornais no Brasil, todos eles ligados ao capital estrangeiro, vão contar uma guerra a conta-gotas. A cobertura que eles dão à União Soviética é pequena em relação à guerra que a União Soviética estava travando. Aí entrou a questão de classe", aponta.
O pesquisador também argumenta que o anticomunismo no Brasil seria um fenômeno histórico, mas que não atua sozinho. Segundo ele, essa forma política está presente em governos liberais e reverbera até hoje no país, inclusive, em posicionamentos contra a Rússia contemporânea. "Essas velhas estruturas — OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], Consenso de Washington — continuam pautando o Brasil", avalia o historiador.
Censura barrou circulação de jornal por publicação de foto da URSS
A obra coletou documentos da época, vários deles inéditos, colhidos no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, no Arquivo Histórico do Itamaraty e no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Pitillo destaca dois documentos inéditos localizados pela pesquisa emitidos pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão criado por Vagas durante o Estado Novo.
"Um deles é um documento que proíbe um jornal, o Correio da Manhã de sair. Ele fica 24 horas proibido de sair porque publicou uma foto da cidade de Stalingrado [atual Volgogrado] — a foto de uma rua com um prédio bombardeado. Isso poderia ser qualquer rua na Europa naquele momento, mas porque publicou uma foto de Stalingrado o jornal cumpriu um castigo", conta o pesquisador, citando o episódio de 1942.
Pitillo também cita outro documento do DIP proibindo que a imprensa escrita e falada no Brasil citasse qualquer coisa sobre a União Soviética e o Exército Vermelho sem citar um outro país aliado.
"Ou seja, para publicar uma foto de um soldado soviético tinha que ter um aliado do lado, para citar algum avanço soviético na linha de frente, tinha que ter uma matéria correlata falando dos ocidentais", afirma.
Publicação independente
O livro "O Exército Vermelho na Mira de Vargas" será publicado de forma independente pelos autores João Claudio Platenik Pitillo e Luiz Edmundo Tavares por meio do selo Guerra Patriótica. A primeira tiragem terá 1.000 exemplares e será lançada no dia 15 de outubro de forma on-line. A edição poderá ser comprada por R$ 70,00. O autor pede que interessados acompanhem as redes sociais do selo.