É preciso conversar sobre o Alzheimer
O dia 21 setembro é o Dia Mundial do Alzheimer, data em que se marca a necessidade da conscientização da sociedade. A doença está entre os casos mais comuns de demência, responsável, segundo a Organização Mundial de Saúde, por 60 a 70% dos diagnósticos. Ela se manifesta através de uma demência progressiva, que aumenta sua gravidade com o tempo e os sintomas, mentais e físicos, começam lentamente e se intensificam ao longo dos anos. É preciso que se fale mais sobre o assunto, que se enfrente o estigma, para que os idosos e parentes procurem ajuda mais cedo, tendo aconselhamento e apoio.
E o apoio aos familiares e ao paciente é primordial. Nos últimos anos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD-C 2019), houve um crescimento no número de brasileiros que passaram a cuidar de seus parentes idosos. Eram 3,7 milhões em 2016, chegando a 5,1 milhões em 2019. A pesquisa aponta um percentual maior nos estados do Nordeste, mas o Rio de Janeiro se destaca na região Sudeste, por ter uma população maior de adultos acima dos 65 anos. Por conta da pandemia, esses dados podem ter sofrido um aumento nesses primeiros meses 2020.
A realidade se agrava quando pensamos que muitos desses idosos sofrem com algum tipo de demência. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer existem no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer. No Brasil, há em torno de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico ( Fonte: site ABRAZ).
O tratamento requer um atendimento multidisciplinar com atendimento por profissionais da área da neurologia, clínica médica, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e nutrição. Muitos idosos enfrentam o problema com essa assistência. Com a crise, agravada agora pela pandemia, e o achatamento das aposentadorias, a maioria não tem condições de pagar um plano de saúde e depende dos hospitais públicos/SUS que estão sobrecarregados e muitas vezes não oferecem um atendimento de excelência e acompanhamento constante.
Pode acontecer que os primeiros sintomas tenham início alguns anos antes dos familiares perceberem que o idoso está com demência. Podem ser esquecimentos simples, como troca de nomes dos netos, repetição de uma mesma história várias vezes e mudança de comportamento ou comportamento não adequado. É um conjunto de alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento e habilidades visuais-espaciais), físico (problemas de marcha e deglutição) e também do comportamento (apatia, agitação, agressividade, delírios, entre outros), limitando, progressivamente, a pessoa nas suas atividades diárias.
Quanto antes se iniciar um tratamento, procurando a ajuda de um profissional da área médica, melhor será para retardar o avanço da doença. Um diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento, que tem como objetivo frear o progresso da doença.
Junto com os doentes, cresce também o número de familiares cuidadores que possuem sua rotina afetada pela doença. É comum este familiar desenvolva doenças originadas pelo estresse. Além de vários outros problemas físicos, ele pode apresentar também depressão, exaustão, insônia, irritação e falta de concentração. Isso ocorre devido à sobrecarga de tarefas com o doente que aumenta com a evolução da doença.
Algumas dicas podem ajudar a diminuir o estresse diário. A principal é aumentar o conhecimento sobre a doença, isso faz com que o familiar se prepare para as etapas do processo de demência, encarando as dificuldades de maneira mais prática.
André Lima - Neurologista. Ele é Membro da Academia Brasileira de Neurologia. Diretor Médico da Clinica Neurovida.