Todos podem chegar a isso

Precisamos de relacionamentos em que possamos servir para alguma coisa, e relacionamentos aos quais possamos nos referir no intuito de definirmos a nós mesmos

Por TARCISIO PADILHA JUNIOR

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Schopenhauer esforçou-se para pensar a totalidade do mundo, observar o espetáculo do mundo desde os bastidores, que permite ver "como ser exatamente assim sem ainda ser". Somente nos atreveremos a pensar o que se acredita poder realizar através da vida; ou opostamente, após termos pensado em qualquer coisa teremos de vivenciá-la a qualquer preço.

Na vontade de controle cada vez mais eficaz do nosso mundo, poder de organização e de eficácia é condicionado pela exigência de proteção e de precaução ilimitadas da vida. Jamais saberemos ao certo se o modo de vida é o melhor que se pode obter, aquele que provavelmente nos trará maior satisfação. Tendo escolhido, por quanto tempo se apegar a ele?

Fato é que precisamos de relacionamentos em que possamos servir para alguma coisa, e relacionamentos aos quais possamos nos referir no intuito de definirmos a nós mesmos. Pela primeira vez na história, autointeresse e princípios éticos apontam na mesma direção e exigem a mesma estratégia. A única escolha que temos é garantir a vulnerabilidade de todos.

Todos podem chegar a isso a partir de suas origens, estende-se a todos os países do mundo e a todos os seus passados. Hoje, por mais afetados que sejamos pelas coisas do mundo, por mais profundamente que possam nos instigar e estimular, elas apenas se tornam humanas quando podemos discuti-las como nossos contemporâneos, quando se torna objeto de discurso.

Produz efeitos sobretudo em relação aos contornos entre as esferas do privado e do público, acarretando novas maneiras de se comportar e de vivenciar e expressar os sentimentos. As recentes eleições municipais mostraram o papel determinante do lugar. Quanto mais diferentes entre si são os que convivem num espaço limitado, as ideias estarão ali para ser debatidas.

Nos dias que correm, a mobilização de homens e mulheres reclama forma de gestão que permita ampliar a responsabilidade das pessoas em todos os níveis de vida da organização. Nada é pior que o descompasso entre ideais proclamados e uma realidade deles distanciada. Conhecemos desventuras de projetos que não têm tradução concreta na realidade das empresas.

O poder teórico que o cidadão exerce sobre as instituições políticas, graças à realização de eleições livres, é sistematicamente esvaziado por imposturas de uma pletora de políticos. Numa democracia real, os valores compartilhados não resultam de uma mera coincidência que faz com que nossas escolhas de indivíduos, conscientes e participativos, se encontrem.

Numa sociedade democrática calcada em valores de saúde e segurança, negação do parâmetro ético torna-se não só falta moral, mas sobretudo erro de comunicação que custa caro. Custa caro negligenciar a dimensão humana e subestimar, numa cultura individualista, tudo aquilo que pode favorecer o bom ambiente nas equipes, a valorização dos papeis profissionais.

Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)