ARTIGOS

O Palácio Quitandinha

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Por MAURO MAGALHÃES

Publicado em 07/02/2021 às 17:52

Alterado em 07/02/2021 às 17:59

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Há oito décadas (1941), o genial empreendedor mineiro (nascido em uma localidade perto de Barbacena), Joaquim Rolla, começou a construir o famoso Cassino do Quitandinha.

Apaixonado por jogos de cartas, começou a ganhar dinheiro ainda jovem, quando passou a vender para alguns alemães, que foram trabalhar na região onde ele morava, uma bebida alcoólica com gosto de abacaxi.

Dono dos cassinos da Urca, no Rio de Janeiro, e de Icaraí, em Niterói, Joaquim Rolla convidou meu tio materno, Norival (que também era mineiro), para ser o gerente de seus empreendimentos, no estado fluminense.

Irmão de minha mãe, Dorvina, tio Norival chamou meu pai, Alcides, para ajudá-lo no trabalho de gerenciar, primeiro, o Cassino de Icaraí, em Niterói, e, depois, o maravilhoso Cassino do Quitandinha, na região serrana.

Joaquim Rolla era sobrinho do cacique político local, no interior de Minas, o coronel Francisco Leôncio Rolla.

Com espírito pioneiro, Rolla construiu diversas estradas em solo mineiro, através de contatos que tinha com o ex-presidente Artur Bernardes.

Em 1920, fundou com seu irmão, João Rolla, "O Mundo das Meias" e logo declinou do negócio (declinou a favor de seu irmão e João deu o nome de "Casa Rolla" ao empreendimento, a partir de 1953).

Quando veio morar no Rio de Janeiro, na época a capital federal, Joaquim Rolla ganhou o apoio dos políticos, quando, com pouco mais de 30 anos de idade, resolveu comprar o Cassino da Urca, em pleno início da Segunda Guerra Mundial.

Eu tinha sete anos, quando cheguei com meus pais e seis irmãos a Petrópolis.

Meu pai trabalhava no Cassino Quitandinha e, nas horas de folga, ele e minha mãe nos levavam ao lindíssimo Parque Cremerie. Tivemos o privilégio de guardar - eu e meus irmãos - em nossas lembranças histórias de glamour

Na época em que funcionou como hotel-cassino, aconteceram ali shows memoráveis. Como os da cantora lírica peruana Yma Sumac, que participou da festa de inauguração, junto com a dupla de dançarinos americanos Don e Dolores Graham, a cômica dupla sertaneja de Alvarenga e Ratinho, a atriz Margareth Leanthos e a orquestra de Ray Ventura.

Graças ao convite de meu tio Norival para meu pai Alcides trabalhar no Quitandinha eu tive o privilégio de, aos oito anos de idade, ser carregado no colo pelo presidente Getúlio Vargas.

Getúlio passava os finais de semana no Palácio Rio Negro, em Petrópolis. E, muito simpático, costumava caminhar pelas ruas.

Eu pedi ao meu pai, em um dia de domingo, que me levasse para conhecer Getúlio. Quando chegamos perto do Palácio do Rio Negro, eu gritei, "Presidente Getúlio". Ele ouviu e pediu que Gregorio Fortunato me carregasse no colo até onde estava. Também ganhei uma foto autografada do chefe da República.

Quando casei com minha mulher, Thetis, em 1961, passei minha lua-de-mel no Hotel Quitandinha.

De propriedade, inicialmente, de Antonio Faustino, engenheiro-chefe da Estrada de Ferro Central do Brasil (a irmã dele, Marguerita, casou com Joaquim Rolla), o terreno do Quitandinha é privilegiado.

Passaram pelos salões do inesquecível hotel artistas internacionais como Orson Welles, Lana Turner, Henry Fonda, Maurice Chevalier, Greta Garbo, Carmen Miranda, Walt Disney, além de Getúlio Vargas, Evita Perón, além do presidente Harry Truman, dos EUA.

Em 1946, o presidente Eurico Dutra fechou os cassinos. Para sobreviver, Joaquim Rolla vendeu apartamentos do Palácio Quitandinha para novos proprietários. O Palácio transformou-se em condomínio, a partir de 1963.

As memórias de tudo o que aconteceu no Quitandinha continuarão para sempre.

*Empresário e ex-deputado estadual.