O futuro da empregabilidade
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Uma das preocupações mais marcantes nos dias em que vivemos diz respeito à empregabilidade. Não apenas pelas contingências da conjuntura, mas também pela imprevisibilidade do futuro.
Os assuntos mais estudados pelos futuristas englobam a comunidade, a sustentabilidade e a diversidade, e o tema que permeia a todos é a tecnologia.
A aceleração da inteligência das máquinas sairá do nosso controle? Muitas pesquisas revelam que a humanidade demorou aproximadamente 300.000 anos para ser detentora do conjunto de conhecimento que tem hoje, já as máquinas demoraram apenas 60 anos para chegar a esse mesmo nível de conhecimento. De acordo com esses estudos, não precisaremos de mais do que 50 anos para que as máquinas nos ultrapassem.
Uma vez que hoje não conhecemos inúmeras das profissões que surgirão no mercado nos próximos 10 anos e se as máquinas estarão à frente de nós em um futuro bem próximo, o que faremos para não perdemos nossa relevância no mercado de trabalho?
Dar atenção à nossa humanidade é o caminho!
Para vivermos bem no futuro e termos importância no mercado de trabalho, basta que desenvolvamos o que somente nós conseguimos fazer, pelo menos ainda. Dentre as várias habilidades humanas, podemos destacar algumas que serão imprescindíveis para o cenário que já se desponta.
A primeira é o pensamento crítico. Infelizmente não somos treinados para desenvolver esse tipo de pensamento. Como seres humanos nosso cérebro sempre irá trabalhar maximizando o prazer, diminuindo a dor e otimizando energia, o que acontece é que cada vez mais temos recebido informações fragmentadas, ou melhor, mastigadas, impedindo que precisemos pensar sobre o assunto exposto, então acabamos por escolher o mais cômodo.
Apesar do cérebro não ser um músculo, assim como ao exercitar os músculos os fortalecemos, ao exercitar o cérebro nos obrigando a pensar de forma crítica, também desenvolvemos e fortalecemos essa capacidade.
Uma das maneiras de desenvolver nosso pensamento crítico é contrariando nosso mindset. Na linha do que falamos sobre o cérebro otimizar energia, nós sempre vamos procurar informações que confirmem ou evidenciem o que pensamos ou acreditamos. A ideia é procurar opiniões contrárias e buscar entendê-las, isso fará com que você seja obrigado a confrontar não o outro, mas a si mesmo.
O problema é que hoje em dia estamos excessivamente intolerantes para com o que é diferente de nós e acabamos por perder muito com isso. A diversidade de ideias nos faz exercitar o pensamento crítico, quando conversamos com alguém que pensa diferente de nós somos de certa forma obrigados a pensar sobre a maneira como o outro vê e sobre a nossa própria maneira de enxergar as coisas. Podemos agregar mais conhecimento a nossa “bagagem” ou até mesmo nos tornarmos mais convictos dos nossos próprios conjuntos de crenças, valores, paradigmas, o que importa é que aquela experiência nos tirou do “automático”, fomos obrigados a pensar...
A segunda habilidade que certamente amplia a nossa relevância e empregabilidade é a adaptabilidade. Se adaptar é se adequar, é ter facilidade de se ajustar às exigências das circunstâncias. Acrescento a flexibilidade e a velocidade para tomadas de decisão como habilidades complementares a qualquer adaptação.
A adaptabilidade exige também resiliência, uma habilidade muito requerida em nossos dias e que já tem até uma “versão mais nova”, que seria o conceito do antifrágil. O antifrágil seria o indivíduo que não apenas aceita e se acomoda ao fato vivenciado, mas consegue extrair algo relevante dele.
Por fim, como terceira habilidade vem a comunicação, essa se desdobra em empatia e na capacidade de construir relações. Em um mundo cada vez mais tecnológico, com uma velocidade de transformação e geração de informação colossais, precisamos estar cientes de que não temos todas as habilidades necessárias para navegar nesse universo, vamos precisar cada vez mais uns dos outros, precisamos nos conectar. Nos conectamos com boa comunicação e empatia.
Com a boa comunicação e a empatia estamos dando excelentes passos para a ação, e é daí que precisa ressurgir com força uma palavra fora da lista das palavras que estão na moda hoje em dia, o altruísmo. É essencial um olhar mais atento para o outro, se colocar no lugar do outro e agir. Está faltando mais ação.
Precisamos nos entender como extensão uns dos outros, como família, se não da mesma fé, se não da mesma ideologia política, se não da mesma cor, cultura, e por aí vai..., mas inegavelmente da mesma espécie. Somos extensão uns dos outros na humanidade. Seremos relevantes quanto mais reconhecermos no outro uma humanidade que também é nossa.
O futuro sugere a união do homem com a máquina, a simbiose tecnológica já existe e só aumenta, um dos exemplos disso é constatar como a inteligência artificial amplia a nossa realidade, não há como negar isso. Mas como nos uniremos à máquina sem primeiro nos unirmos aos nossos semelhantes?
Como trabalhar em prol de um mundo melhor, sem conhecer, ouvir, se interessar e se movimentar em direção ao bem do outro? Esquecemos que o bem do outro é nosso bem primeiro, esquecemos que olhar o outro é também nos olharmos no espelho, negligenciamos que o fim do outro, de alguma maneira, também é o nosso fim.
O futuro é o homem e a máquina, ao menos que a gente desista de lutar pela nossa humanidade. A ciência nunca será maior que a grandeza infinita que habita cada um de nós seres humanos, basta que tenhamos olhos para ver e ouvidos para ouvirmos uns aos outros.
Lembrando a canção da Marisa Monte, todos nós temos um infinito particular!
Cristiana Aguiar. Economista, CEO da Jeito Certo Consultoria. Conselheira no Conselho Empresarial de Governança e Compliance da ACRJ. Articulista