Bolsonaro rumo aos EUA
Razões são muitas para que se empreste importância a essa reunião que, dia 19, em Washington, levará à mesa Jair Bolsonaro e Donald Trump, além da expectativa gerada por ser, depois de Davos, a segunda viagem do novo presidente ao Exterior, esta de maior conteúdo politico. Detalhe que não deixa de ser relevante é que o governo americano recebe, pela primeira vez, em quase 14 anos, um governante brasileiro confessadamente simpático à Casa Branca; simpatia de que ela nunca desfrutou nos mandatos confiados ao Partido dos Trabalhadores. Diante disto, com a frieza protocolar do passado e a identidade política do momento, não será surpresa se a recepção for acalorada; até porque, para os Estados Unidos, qualquer que seja seu presidente, a aliança com Brasília, é tida como largo passo para ampliar seu diálogo com a América Latina. Desde John Kennedy, nos anos 60 do século passado, os americanos consideram que para aonde o Brasil caminhar, os latinos caminharão. Talvez seja prudente reconhecer certa dose de exagero nisso, mas sempre houve algum indício para confirmar a liderança atribuída.
Como o daqui como o de lá têm revelado tentação de tratar as coisas sem maiores filigranas, não necessariamente se importando com as repercussões, a tendência é levá-los para o campo da objetividade, a começar no trato da crise da Venezuela. Trump não esconde considerar que vão se esgotando os recursos para remover Maduro do poder, e insinua ações de intervenção, "possibilidade que está sobre a mesa", como tem afirmado repetidas vezes. Tudo faz admitir que poderia aproveitar o ensejo para, agora oficialmente, repetir a insinuação, o que não deixaria de constranger o visitante, cujo governo acaba de renovar seu respeito à autonomia daquele país, com gravíssimos problemas. Mas, citando os males da repercussão de uma ação mais agressiva, observadores ligados à Casa Banca passaram a admitir que Trump continue apostando nas sanções econômicas contra o ditador; porém insistindo para que Bolsonaro endureça as pressões, no que couber ao Brasil.
Da mesma forma como causaria desconforto diplomático ao visitante se defendesse a política intervencionista em relação a Caracas, o anfitrião insistiria em algo que já se revelou delicado para os interesses nacionais, ainda que à primeira vista possa parecer proveitoso. Trata-se da possibilidade de instalação de base militar americana em solo brasileiro; porque base dessa natureza, com as funções a que se propõe, só teria justificativa se houvesse identidade perfeita com os interesses da defesa do território. E, felizmente, não temos aventureiros a nos ameaçar. Afora que, sendo os Estados Unidos uma potência permanentemente envolvida em conflitos, sua base brasileira correria o risco de represálias; e nós diretamente afetados.
Conjecturas preocupantes - e até pode ser que nem se confirmem - não impedem que as conversações de alto nível, na segunda quinzena do mês, levem a ampliar os intercâmbios comerciais entre os dois países, sem que contra eles influam oscilações de detalhes da política internacional, principalmente em relação aos commodities, que são fundamentais para a nossa balança. Uma boa e próspera vizinhança recomendaria a Trump, por exemplo, a não mais sobretaxar o aço brasileiro. Boa hora, também, para se conversar sobre uma proveitosa troca de experiências e conhecimentos no campo científico, embora não se possa negar que, nesse particular, temos mais a receber do que oferecer.