Reforma pelos partidos
Composto, em suas bancadas, por três dezenas de partidos, dos mais diversos matizes, o Congresso Nacional ainda não revelou qualquer ânimo para reabrir discussões objetivas sobre a reforma política; talvez se anime após desvencilhar-se de outras matérias que se impõem como prioritárias; e estão nesse caso a reforma da Previdência e o pacote anticrime. Não pode, contudo, exceder em demoras, pois já no próximo ano a nação será novamente chamada às urnas para eleger os prefeitos; e eleição municipal, como se sabe, pode mostrar virtudes e defeitos que levam reflexos importantes para o processo eleitoral seguinte. Em 2022 estará em cena a sucessão do presidente da República; e de outra coisa, com toda certeza, a classe política não quererá cuidar.
Quando o voto se destina a indicar líderes locais, a começar pelos prefeitos, os partidos têm um papel dos mais expressivos, pois estão tratando diretamente com suas bases, podem senti-las de perto. Essa vivência justifica a sugestão de se incluírem, como tema indispensável da pauta, os pedaços da reforma ainda não contemplados. O assunto se revela com tamanha importância, que não haveria como retardá-lo; mais ainda no âmbito dos cuidados do Legislativo e das bancadas que o compõem.
Antes dos partidos, ou concomitantemente a eles, o Congresso pode dar a partida nas discussões, porque não há quem possa duvidar: nenhuma fonte seria mais adequada para absorver tal responsabilidade, inclusive por abrigar tantas legendas. Já sobre isso, aliás, parece fazer sentido cobrar da Câmara o testemunho sobre tal fartura. O que teria a dizer: o excesso das legendas pulveriza a representação popular ou serve para vitalizá-la democraticamente? Há que se esperar um depoimento sobre isso.
Trata-se do dever de casa, do qual nem estão dispensados os grandes partidos derrotados em 2018, vítimas de um retumbante fracasso, que não permitiu distinção entre eleição majoritária ou proporcional. Perderam nos dois campos. Pois também a eles cabe discutir os rumos da reforma, em especial no que tange às organizações políticas, tomando-se como ponto de partida a experiência que há pouco viveram com o eleitorado. A bem dizer, a eles é que deve pesar o ônus principal, porque foram o principal alvo de um fenômeno avassalador e incontrolável, o que o secretário-geral do PSDB, Marcus Pestana, definia, ontem, como "resultante de um forte sentimento antipolítica, potencializado pelo protagonismo inédito das redes sociais"; as redes, que mais levantaram a bandeira de renovação, e ainda não se empenharam no ideal reformista.
Vai chegando a hora de conferir se esse temporal renovador valeu a pena. Sim ou não, são os partidos que têm de se explicar; e, no que couber, oferecer as lições ao grande projeto de inovações. Os grandes, além dos tucanos, incluídos PT e MDB, souberam na pele e nas urnas, que os tradicionais modelos políticos ficaram superados, há muito reclamando a recauchutagem que os eleitores acabam de abonar. O que pretenderão fazer frente à exigência de reciclagem?
Sem sair dos gabinetes do Congresso e das sedes nacionais dos partidos, a análise dessa questão cai como atribuição comum a todos. Pertence também aos mais modestos, que, em parte, conquistaram uma vitória acidental; muito mais pela exaustão dos grandes, do que propriamente por suas modestas forças. Eles podem não reunir fôlego para grandes embates, a partir de agora, condenados e terem êxito fugaz e passageiro. Portanto, seja qual for a envergadura de cada um, governistas ou oposicionistas, precisam se dedicar ao estudo da realidade brasileira; o que significa mergulhar, com coragem, na reforma política.