Amazônia tem o segundo pior índice de desmatamento desde 2008, aponta pesquisa

Levantamento da Imazon abrange o primeiro trimestre; nesta quarta, os EUA anunciaram plano para ampliar verba do Fundo

Por GABRIEL MANSUR

Apreensão de madeira nativa da história do Brasil, feita pela Polícia Federal na divisa do Pará com o Amazonas

O desmatamento na Amazônia triplicou no mês de março e fez o primeiro trimestre de 2023 fechar com a segunda maior área de floresta derrubada em pelo menos 16 anos. O pior índice foi registrado nos três meses iniciais de 2021.

O monitoramento por imagens de satélite do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), implantado em 2008, mostra a desflorestação de 867 km² entre janeiro e março deste ano, uma área equivalente a quase mil campos de futebol - por dia - de mata nativa. Essa destruição só não foi maior do que a registrada em 2021, quando foram postos abaixo 1.185 km² de floresta no mesmo período. No último ano do segundo mandato de Lula (PT), em 2010, esse índice era de 227 km².

O mês passado registrou mais um índice negativo: oito dos nove estados que compõem a Amazônia Legal apresentaram aumento no desmatamento - a exceção foi o Amapá. Somente a unidade de conservação APA Triunfo do Xingu, no Pará, perdeu uma área de floresta equivalente a 500 campos de futebol. Com isso, já foram registrados 42% do desmatamento previsto pela plataforma PrevisIA para o período de agosto de 2022 a junho de 2023, de 11.805 km².

"Os governos federal e dos estados precisam agir em conjunto para evitar que a devastação siga avançando, principalmente em áreas protegidas e florestas públicas não destinadas. Será preciso também não deixar impune os casos de desmatamentos ilegais e apropriação de terras públicas”, alerta o pesquisador Carlos Souza Jr., do Imazon

Na última semana, o governo federal colocou em consulta pública a quinta fase do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), criado na primeira gestão Lula (PT). Elaborado pela pasta de Marina Silva com outros 11 ministérios, o novo texto poderá receber sugestões de pessoas ou organizações até o dia 26 de abril.

 

Amazonas lidera desmatamento

No Amazonas, a devastação aumentou 767%: de 12 km² em março de 2022 para 104 km² em março de 2023. O estado lidera as estatísticas, concentrando 30% de toda a devastação na região. A região sul do Amazonas, em municípios próximos à divisa com o Acre e com Rondônia, na localidade conhecida como Amacro, é a mais afetada pelos homens. Em março, porém, a região próxima às divisas com o Pará e o Mato-Grosso também foi desflorestada.

O Amazonas também tem o município que mais derrubou a Amazônia em março: Apuí, com 49 km². As outras duas cidades do estado que ficaram entre as 10 que mais desmataram foram Novo Aripuanã (14 km²) e Lábrea (11 km²). Ou seja: somados, esses três municípios tiveram 71% de toda a destruição registrada no estado em março.

 

EUA querem ampliar verba para Fundo

Nesta quinta-feira (20), mesmo dia em que a pesquisa da Imazon sobre o desmatamento foi divulgada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou um plano para aumentar o verba de seu país ao Fundo Amazônia, programa de financiamento internacional do governo brasileiro que banca ações contra o desmatamento na Floresta Amazônica.

Segundo um documento da Casa Branca, Biden solicitará ainda nesta quinta ao Congresso norte-americano US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) para o fundo, a serem usados ao longo de cinco anos. O valor é dez vezes superior ao que foi planejado por Washington em fevereiro, quando os Estados Unidos anunciaram intenção de aderir ao Fundo.

 

O Fundo Amazônia

Criado há 15 anos para financiar ações contra o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa na Floresta Amazônica, o Fundo Amazônia foi paralisado em 2019 pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Em novembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a reativação do fundo em um prazo de 60 dias.

Após a eleição de Lula, a Noruega e a Alemanha, os principais patrocinadores do fundo, anunciaram que retomarão o financiamento. Ambos os países haviam cancelado sua participação no programa também em 2019, após a vitória de Bolsonaro.