Mais de oito milhões de eleitores receberam oferta para vender voto
Jeferson Ribeiro, Portal Terra
SÃO PAULO - Uma pesquisa divulgada na manhã desta quarta-feira pela Ong Transparência Brasil revela que cerca de 8% dos eleitores brasileiros receberam algum tipo de oferta para vender seu voto. Em número de eleitores, isso representa cerca de 8,3 milhões de pessoas. Esse contingente é maior do que a soma de todos os votos depositados nos Estados de Roraima, Amapá, Acre, Tocantins, Rondônia, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Amazonas. A pesquisa ouviu 2.002 eleitores em 142 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Segundo o levantamento, as faixas mais vulneráveis de compra de voto não são os mais pobres nem os menos instruídos e sim os mais jovens. Nos eleitores com idade entre 16 e 24 anos, 13% dos pesquisados afirmam que receberam algum tipo de oferta para escolher o candidato. Entre os que tinham 25 e 29 anos, 10% foram aliciados. Já entre os eleitores acima dos 40 anos, essa tentativa de compra de voto fica abaixo dos 6%.
Cerca de 4% dos entrevistados disseram ter recebido ofertas em dinheiro vivo. O maior número de registro desse tipo de aliciamento ocorreu no Estado do Paraná, que também é apontado pela pesquisa como a unidade da federação mais vulnerável a ofertas de compra de votos. Outros 4% dos eleitores confirmaram ter recebido como oferta a resolução de problemas em sua comunidade pela administração estadual em troca de voto.
A Ong considera que, mesmo que parte das ofertas tenha sido rechaçada, há indícios para afirmar que houve "alteração radical" no resultado das eleições. Segundo os pesquisadores, talvez centenas de deputados estaduais, federais, senadores e até governadores tenham sido eleitos com a facilidade da compra de votos.
Em 2002, a mesma pesquisa apontou que apenas aproximadamente 3% dos eleitores teriam recebido oferta para vender seu voto. Nas eleições do ano passado, esse número chegou a 8%. A Transparência Brasil diz ainda que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem sido negligente a esse tipo de fraude.
Para o diretor-executivo da Ong, Cláudio Abramo, o TSE tem se recusado a usar a urna eletrônica mesmo com o pedido insistente da organização, para pesquisar, durante as eleições, se houve oferta de compra de votos.
- Embora não se possa acusar o TSE, de cumplicidade na organização criminosa do voto no Brasil, a corte é, certamente, responsável por omitir-se. Outros responsáveis são os partidos políticos, que têm perfeita consciência de onde e como a compra de votos acontece - diz o documento entregue pela entidade.
A pesquisa mostra que a região do País mais vulnerável à prática ilegal é a Sul, onde cerca de 12% dos entrevistados disseram ter recebido alguma oferta para escolher o candidato. Na região Nordeste o percentual é de 10%. Na Região Sudeste, o número é de 6% e, nas regiões Norte e Centro-Oeste, 5%.
Abramo critica ainda a posição do TSE que diz que combate a prática tentando conscientizar os eleitores por meio de propagandas educativas. - Eu acho que isso não passa de conversa fiada - afirmou.
A pesquisa apurou também que cerca de 4% dos eleitores afirmaram que já pagaram propina a agentes públicos estaduais, durante os mandatos que se encerraram no ano passado.
Entre as regiões mais afetadas com essa prática ilegal estão os Estados do Nordeste, com 7%, seguidos do Norte e Centro-Oeste, com 4%, Sudeste com 3% e Sul com 12%.