Preso funcionário do IML de Curitiba acusado de vender cadáver

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JB Online

CURITIBA - O Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) prendeu na manhã desta terça-feira, um funcionário do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba acusado de vender o cadáver de um indigente para que um homem aplicasse golpe de U$ 1,5 milhão em uma seguradora norte-americana.

De acordo com o delegado Sérgio Inácio Sirino, coordenador estadual do Nurce, o papiloscopista João Alcione Cavalli, teria cobrado R$ 30 mil para atribuir ao indigente a identidade do homem que aplicaria o golpe na seguradora.

- Esta é mais uma prova de que a intervenção no IML era necessária para corrigirmos todas as falhas e falcatruas que pudessem existir lá dentro. Estamos fazendo isso e não vamos dar tréguas nesta luta contra a corrupção - disse o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari.

A prisão de Cavalli foi baseada em um mandado de prisão preventiva, expedido pela Vara de Inquéritos. Ele foi preso na sede do Instituto de Identificação do Paraná. Cavalli trabalhava no IML cedido pelo Instituto de Identificação e há uma semana voltou a trabalhar no órgão.

Mércio Eliano Barbosa, 28 anos, apontado pela polícia como mentor de todo o golpe, já foi preso pelo Nurce. Além dele, sua irmã Daiana Barbosa, 20, e Cristian Gean José de Andrade, 30, também estão atrás das grades acusados de participarem da trama.

- Conseguimos pegá-los da mesma forma que eles negociaram a compra do cadáver, pela internet. A Polícia Civil usou uma foto de uma mulher para marcar um encontro amoroso com Andrade através de um site de relacionamento e foi aí que conseguimos encontrá-los - relatou do secretário Delazari.

Segundo Sirino, o golpe começou a ser arquitetado há três anos, quando Barbosa teria comprado duas apólices de seguro de vida uma no valor de US$ 1 milhão e outra de US$ 600 mil - nos Estados Unidos onde morava com sua esposa.

- De lá, ele já começou a fazer contatos para saber como conseguiria um atestado de óbito falso. Depois ele passou a procurar pela internet, deixando recados em comunidades do Orkut até que o funcionário do IML soube e o procurou - disse Sirino.

O delegado disse que além das apólices de seguro, Barbosa teria feito o consórcio de uma GM Blazer no valor de R$ 130 mil, através do nome e endereço de Andrade, seu amigo.

- Barbosa entregava o dinheiro a Andrade para fazer o pagamento das mensalidades e, após sua suposta morte, conseguiria quitar o consórcio e dar uma parcela do dinheiro a Andrade - contou o delegado.

Papiloscopista As investigações policiais apontam que o funcionário do IML preso teria se encontrado pessoalmente com Barbosa por três vezes.

- Os encontros eram sempre à noite, e o funcionário nunca se identificava para Barbosa, mas prometeu arrumar um corpo para ele, em troca de R$ 30 mil que receberia depois que o dinheiro do seguro fosse liberado - complementou o delegado.

Em um dos encontros, Cavalli teria colhido as impressões digitais de Barbosa e, em outro, o funcionário teria dito que precisava de um parente de primeiro grau que fosse reconhecer o corpo no IML e já entregou a do indigente morto que seria enterrado em seu lugar.

- Foi então que Daiana, irmã de Barbosa, entrou no esquema. No dia da suposta morte de Barbosa, ela foi até o IML e, acompanhada por Cavalli, reconheceu o corpo de um indigente como se fosse de seu irmão - lembrou Sirino.

Com a guia de liberação do corpo, os familiares enterraram o indigente no dia 26 de julho de 2007, em São José dos Pinhais, no cemitério Caminho do Céu. Depois do enterro, Barbosa foi para Canela, no Rio Grande do Sul e sua irmã teria ido para Gramado, vizinha à Canela.

O golpe começou a ser frustrado logo depois, quando a seguradora New York Life Insurance - desconfiou da morte de Barbosa e repassou algumas informações à polícia. No dia 5 de março deste ano foi aberto inquérito e, na última sexta-feira, Barbosa e sua irmã Daiane foram presos na cidade de Ibaiti, no norte do Paraná. Andrade foi preso em São José da Boa Vista, próximo a Ibaiti.

Mércio Eliano Barbosa, Daiana Barbosa e Cristian Gean José de Andrade vão responder por estelionato, falsificação de documento público, falsidade ideológica, corrupção ativa e formação de quadrilha. O funcionário do IML será indiciado por corrupção passiva.

A polícia agora entregará uma cópia de todo o procedimento investigativo e encaminhará para a Polícia Federal, para que sejam tomadas as providências legais contra a esposa de Barbosa, que está nos Estados Unidos.

- Provavelmente ela será extraditada porque está em situação ilegal naquele país - complementou Sirino.

Exumação - Nesta quarta-feira, a polícia pretende realizar a exumação do corpo que foi enterrado no lugar de Barbosa, no cemitério Caminho do Céu, em São José dos Pinhais.

- Suspeitamos que o corpo seja de uma pessoa que se chamava Marcelo Alves e temos uma mãe que está requisitando o corpo - disse Sirino. Para tentar definir a verdadeira identidade do cadáver, a polícia pedirá ao Instituto de Criminalística o confronto de DNA do cadáver com o da mulher que procura o filho.